"Acordo de mais uma noite ruim - aquelas em que eu tenho pesadelos, acordo com eles frescos na cabeça, e eles vão se tornando menos nítidos à medida que acordo, até só sobrar uma sensação ruim e o esboço de uma lembrança. A vontade é de passar o dia na cama, mas a vida não para e espera até que você esteja pronta para viver.
Desbloqueio o celular, e olho as conversas do whatsapp sem me demorar em nenhuma. Esfrego os olhos, levanto e me arrasto até a cozinha. Passo um café, daquele que acorda até a alma, e me preparo para mais um dia de trabalho, estudo, e nenhuma diversão. Dizem que a essa idade a gente tem mais energia e disposição, mas eu não encontro nenhum dos dois em grande quantia.
Aos vinte e poucos, nem sempre a gente sabe o que quer fazer da vida, mas a sociedade cobra uma resposta: uma faculdade, um trabalho. E você escolhe um curso que talvez não seja o que você queria - porque o seu irmão mais novo que você já está na faculdade. E você arruma dois empregos quando mal da conta de um, porque precisa pagar a mensalidade, a conta de luz, é muito importante: a internet. Porque a geração dos vinte depende da internet.
Você convive com pessoas de todo o tipo: pessoas incríveis, pessoas medíocres, pessoas que te fazem querer esfregar a cara delas no asfalto, e precisa suportar todas. Sua mãe te dizia pra falar sempre a verdade, mas aos vinte e poucos você descobre que pessoas que falam muito a verdade ficam mais sozinhas, porque as pessoas não querem ouvir a verdade, elas querem ouvir o que é conveniente.
E você faz um amigo aqui, um amigo ali. Uma amizade que te puxa o tapete e te derruba - mas você tem que se levante e andar como se nada tivesse acontecido.
-Porque a vida não para, porque você precisa aprender a separar as coisas.
E você quer correr pro colo da sua mãe - mas ela está a quilômetros de distância, ou pior, a uma distância que existe mesmo com a proximidade do mesmo lar. E você não tem um namorado, mas é cobrada o tempo todo por ter um namorado - porque a sua prima 3 anos mais nova que você já está quase casando. E você consegue um namorado porque te fazem acreditar que você precisa, mas o vazio, continua.
Os problemas vem e vão, e mesmo quando você não sabe o que fazer, você precisa saber, porque ninguém vai resolver por você.
Aos vinte e poucos você descobre que você pode ter amigos, mas você precisa se virar sozinho.
Trabalho, estudo, amizades falsas. Compras pra casa, contas a pagar, se tornar expert em tempo-horário de ônibus. Somado a isso, você aprende que coração partido não te dá um dia de folga na empresa - e as pessoas vão partir seu coração e você vai ter que seguir como se nada tivesse acontecido. Porque nessa geração não temos tempo pra passar um dia quietos no calor de nosso lar, chorando baixinho e olhando a chuva que bate na janela. Sendo realista, não temos tempo pra passar duas horas sem fazer nada, e ouvindo o silêncio que o nosso coração faz.
Levanta a cabeça, princesa. Caiu? Levanta. Apanhou? Se prepara, a vida te bate mais forte. Quebrou o coração? Cola com super bonder e vai estudar. Vai trabalhar. Para de chorar porque a sua melhor amiga te decepcionou. Seja adulta. Sua prima mais nova que você já está formada.
Aos vinte e poucos, nós precisamos ser adultos antes de ser. Precisamos parar de pedir o colo da mãe, de chorar porque quebrou o dente, ralou o joelho - ou o coração - e conciliar trabalho, com estudo, vida amorosa, pessoal. Diversão? Se sobrar tempo. Parou de estudar por que?
Não é à toa que muitas pessoas são diagnosticadas com depressão, transtorno de ansiedade, bipolaridade, ou chegam a cometer suicidio. A sociedade de hoje exige muito do jovem, quando devia se lembrar que ele está treinando para ser adulto. Não estamos prontos, não ainda, mas precisamos aprender na prática - errando errando e errando.
Mas o que eu estou fazendo escrevendo esse texto? Poderia estar usando esse tempo para estudar, mandar currículos, me inscrever em mais um curso, ou um concurso. Porque é com vinte e poucos que eu vou decidir o que eu quero pra vida - é isso é uma baita de uma responsabilidade. Estão preparados?"
Nathália Zarpellon