Ouça enquanto lê:
"O problema não é você, sou eu."
Sempre achei essa frase clichê demais para ser usada em fins
de relacionamento – e acredite, eu nunca fui uma pessoa muito clichê. Sempre me
orgulhei de ser diferente, diferente de tudo o que você já tinha visto. Mas talvez,
eu seja só mais uma, uma dessas moças bobas que quando não tem o que falar,
acaba falando uma dessas frases clichês que só moças bobas de livros de romance
falam.
Eu sempre gostei muito de romances, embora nunca acreditasse
de fato que eles pudessem existir, e me envolvia com um cara ou outro de vez em
quando, embora já soubesse o desfecho: eles quebrariam meu coração.
Mas com você, foi diferente. Você não me deixou no meu
primeiro chilique de “quem-é-que-está-te-mandando-mensagem-essa-hora-da-madrugada”.
Tampouco pareceu gostar menos de mim quando descobriu que eu não era tão santa
quanto você pensava. Você não pareceu se retrair nem quando eu disse que queria
que conhecesse meus pais – e até fez um bom trabalho tentando impressioná-los. Mesmo
nos momentos em que eu não inspirava amor, você parecia me amar incondicionalmente.
Mas veja, eu nunca acreditei em amor. Então, acredite quando
eu digo que o problema não é você, sou eu; porque isso não é só mais um daqueles clichês que
se falam quando se quer terminar um relacionamento sem magoar uma das partes.
O problema é que embora desacreditada, eu sempre fui romântica
demais, e não consigo conviver com o fantasma da sua traição que não existe,
mas eu mesma crio.
O problema é que embora eu pareça evasiva, eu sou carente
demais, e não consigo disputar a sua atenção com as atribulações do seu dia a
dia, suas amigas da faculdade, e seus 6 animais de estimação.
O problema é que embora eu pregue ser desapegada, sou
extremamente egoísta, e quero só para mim, esse você que tem tantas coisas que eu
consigo gostar...
O problema é que quando eu te digo para sumir, no fundo eu
quero que você insista em arrancar de mim aquilo que me incomoda, e por vezes,
nem eu mesma sei.
O problema é que eu quero de você um cuidado comigo que nem
eu mesma tenho, uma atenção que desconheço, uma parte de você que eu nem sei se
você tem pra me doar.
Mas o real problema de tudo isso, é que eu não posso exigir
de uma pessoa tudo isso que eu quero exigir de você, porque eu escrevo sobre
romances mas nunca soube lidar com o amor. E como o amor ainda é novo para mim,
eu tento pegar ele inteiro para mim, cada parte e cada pedaço que nem sei se me
pertence, e não deve me pertencer. Cada vez
que estamos juntos e eu te toco, tento absorver por osmose esse “que” que
existe em você que me faz tão bem, para que eu possa me sentir completa mesmo
sabendo que eu preciso de você.
Visto tudo isso, eu vou partir, e como você sempre foi o
mais racional de nós dois, você vai entender meus motivos. E vai entender que o problema não é você, sou
eu. O problema sou eu, que preciso tanto de você que nem eu mesma entendo, e sinceramente, não desejo mais entender.
Eu vou partir durante essa madrugada, que é quando sei que
seu sono é mais pesado. Quando acordar pela manhã, abra as portas e a as
janelas, e deixe o ar levar o que sobrar de mim em você, porque eu não vou te
deixar nem uma parte de mim pra se lembrar. Mas se olhar embaixo do seu
travesseiro, ou no fundo dos seus olhos –
que sempre foram os locais que eu mais gostei de ficar – você verá que eu fui,
mas te guardei comigo, em algum lugar nesse emaranhado que sou eu. E se quiser
guardar um pouco de mim, o pedaço que você viu e gostou, guarde. Guarde em seu
coração, mas não em sua memória. E não procure problemas em você - porque o problema sempre fui eu.
Nathália Zarpellon
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