Ouça enquanto lê:
"Querido estranho, eu não sei bem quem é você ou de quem se
trata. Não sei se você terá cabelos escuros e lisos, ou loiro e cacheados,
tampouco se gostará de usar o cabelo raspado. Não sei quanto de altura você
tem, nem sei se é magro, fortinho, musculoso. Eu não sei como você gosta do seu
pão de manhã – ou se você prefere comer ovos mexidos.
Eu não sei qual a sua idade, nem o saldo da sua conta
bancária. Não sei se você tem filhos de outro relacionamento, ou se não suporta
crianças; não sei se mora sozinho, ou se ainda mora com a sua mãe (ou com o seu
pai. Ou com a sua vó).
Mas uma coisa eu sei: você já tem um espaço garantido na
minha vida, o meu guarda roupa, e tem até uma repartição no armário do
banheiro. Não que eu seja uma psicopata que guarda lugar para uma pessoa que nem
conhece. Mas é que antes de você chegar, eu acabei dando o seu espaço para
outro estranho, e outro antes dele.
Eles começaram como estranhos, se tornaram conhecidos, e
saíram da minha vida ainda mais estranhos do que quando eu não os conhecia. Isso
deveria ter me feito desacreditar no amor – e de fato, me fez desacreditar por
um tempo.
Ou para ser sincera, eu dizia por aí que não acreditava, mas
no fundo, aquele pedaço de garota boba sempre esteve aqui dentro. Aquele pedaço
que toda mulher tem, aquela esperança de achar seu príncipe encantado.
Acredite, eu me dei conta de que príncipes encantados não
existem – mas eu não deixei de acreditar no amor por conta disso. Os príncipes
não existem, mas existem pessoas reais, que cá entre nós são bem mais
interessantes que os príncipes das histórias da Disney. Os príncipes das
histórias não dão beijos apaixonados em suas princesas. Nem frequentam lugares
da moda, como MC Donald’s, ou baladas. Os príncipes das histórias andam a
cavalo – e eu sempre preferi sentir o vento quando ando de moto.
Na verdade, não me importa se você se parece um príncipe ou
vai aparecer disfarçado do meu melhor amigo, se vamos nos conhecer numa
cafeteria, ou naquele meu tão sonhado esbarrão (em que eu derrubo todas as
coisas no chão e você me ajuda a pegá-las, me lançando aquele olhar de velho
reconhecimento).
O que importa, é que eu sei que você está aí, em algum
lugar. Você não sabe da minha existência – e como poderia, sendo que nem eu sei
quem você é? Mas eu sei que está todas
as pessoas tem reservado para si um amor de tirar o fôlego, o homem ou mulher
da sua vida, uma paixão arrebatadora. E eu sei que um dia, por descuido do
destino, vamos nos esbarrar numa dessas esquinas da vida.
Acho importante que você saiba algumas coisas sobre mim. Eu sou
diferente de todas as garotas que você conheceu até agora. Sou sincera até a
raiz dos meus cabelos naturalmente castanhos. Não gosto de conversar olhando
nos olhos, mas quando a coisa ficar séria, vou te pedi apara olhar nos meus
olhos. Quando eu fico brava, não sei disfarçar. Qualquer um percebe, a metros
de distância. Detesto quem demorar pra me responder, ou quando me deixam
esperando. Eu amo ler livros, mas dificilmente termino algum. Na verdade,
dificilmente eu termino alguma coisa, isso inclui amizades, ou relacionamentos.
Eu gosto de rosa, mas nada me impede de não suportar usar nada dessa cor em um
dia de mal humor. E não sou apaixonada pela vida, confesso. Estou mais para mais
uma desiludida.
Mas saiba que, acima de tudo, eu nunca deixei de acreditar no
amor. Não é porque eu quebrei meu coração uma vez, que eu vá quebra-lo de novo,
certo? Na verdade, acho que quebrei ele umas 3 vezes. Mas tudo bem, com você
vai ser diferente.
Por isso, querido estranho, lembre-se que não me importa como
seja o seu rosto e o seu sorriso, contanto que você abra um sorriso quando
estiver comigo. Não importa com o que você trabalha ou que horas acaba o seu
dia – contanto que você ganhe o dia quando estiver ao meu lado. Não me importa
o saldo da sua conta bancária – contanto que isso nunca te impeça de estar ao
meu lado. Não me importa se você mora sozinho ou com os seus pais, contanto que
me deixe entrar na sua casa – e na sua vida também.
Isso não é uma carta de uma garotinha iludida, que espera um
presente do Papai Noel. São as confissões de uma garota que sabe que o amor vai
chegar, e não vai estar embrulhado em uma caixa de presente – ele vai estar
dentro de um estranho, que no entanto vai se revelar um velho conhecido."
Nathália Zarpellon
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