Ouça enquanto lê:
"Então, é isso. Aqui estou eu, na minha cidade, a cidade que
sempre dorme, fazendo algo que sempre julguei clichê demais para fazer –
pensando no que você está fazendo aí, na sua cidade que nunca dorme. Justo eu,
que sempre tirei sarro de você por ser clichê demais!
Mas vamos ser sinceros, a culpa não é minha por pensar tanto
em você. Morar em cidade pequena tem dessas desvantagens – não ter nada para
fazer e muito tempo para pensar. Mas claro, eu nunca dou brecha para que
ninguém perceba isso, nem mesmo meu pai. E olha que até ele tem falado que eu
ando quieto ultimamente.
Mas eu disfarço bem: eu saio nos lugares que tem para sair, me
divirto e tiro inúmeras fotos – fotos que publico nas redes sociais esperando
que você veja. Mas se for ver por fotos, você também parece estar muito bem,
parece se divertir, e está cada dia mais linda.
Às vezes, eu penso em te mandar uma mensagem no facebook ou
pedir seu número de whatsapp – você nunca permaneceu muito tempo com o mesmo
número – mas eu desisto antes mesmo de começar a digitar.
Me lembro o dia em que a conheci, naquela rodoviária lotada
de gente que não sabia para onde ir, e gente com destino certo, mas no momento
em que nos esbarramos decidimos exatamente para onde nós queríamos ir. E qual
não foi a minha surpresa quando você, claramente uma moça da cidade, mostrou em
sua passagem o mesmo destino que o meu? Esse fim de mundo de cidade. Esse tal
de destino está sempre a fim de nos surpreender.
Eu perguntei “Você, uma moça da cidade, vai mesmo para o interior?
Difícil acreditar.” E você me respondeu “Eu ainda vou te surpreender muito.” Dito
e feito. Naquelas 4 horas de viagem pude sentir como se nos conhecemos há anos –
mais um clichê.
Te ajudei a descer as malas, e antes que pudesse te dizer
mais alguma coisa, seu tio chegou, e você foi com ele. A minha sorte é que eu
tinha me lembrado de pedir o seu telefone, e no mesmo dia, te liguei. E nós
tivemos as melhores férias de nossas vidas. Ou pelo menos, da minha vida, e
quero acreditar que as da sua vida também.
Mas é como dizem: amores de verão não sobem a serra (tudo
bem que nessa cidade nem serra tem, mas você entendeu). E o nosso amor não
resistiu aos 300 quilômetros de distância, aos ciúmes gerado pela ausência, a
falta de tempo para conversarmos, a falta de perspectivas para o futuro. E então
você se foi, ou eu me fui, mas nós nos fomos sem nunca termos de fato sido um
do outro.
Perdido em meus
pensamentos, eu me encontro aqui – nessa cidade que sempre dorme – decidindo se
ligo para você ou não, embora eu ache que o seu número nem seja mais o mesmo. E
fico pensando se você também está pensando em mim, ou se já me esqueceu de vez.
E enquanto eu decido se eu vou, se eu fico, se ligou ou se
deixo para lá, a vida segue, os dias passam. Só não passa essa absurda
necessidade de pensar em você."
Nathália Zarpellon
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