sexta-feira, 17 de junho de 2016

O Problema

Ouça enquanto lê:



"O problema não é você, sou eu."
Sempre achei essa frase clichê demais para ser usada em fins de relacionamento – e acredite, eu nunca fui uma pessoa muito clichê. Sempre me orgulhei de ser diferente, diferente de tudo o que você já tinha visto. Mas talvez, eu seja só mais uma, uma dessas moças bobas que quando não tem o que falar, acaba falando uma dessas frases clichês que só moças bobas de livros de romance falam.

Eu sempre gostei muito de romances, embora nunca acreditasse de fato que eles pudessem existir, e me envolvia com um cara ou outro de vez em quando, embora já soubesse o desfecho: eles quebrariam meu coração.
Mas com você, foi diferente. Você não me deixou no meu primeiro chilique de “quem-é-que-está-te-mandando-mensagem-essa-hora-da-madrugada”. Tampouco pareceu gostar menos de mim quando descobriu que eu não era tão santa quanto você pensava. Você não pareceu se retrair nem quando eu disse que queria que conhecesse meus pais – e até fez um bom trabalho tentando impressioná-los. Mesmo nos momentos em que eu não inspirava amor, você parecia me amar incondicionalmente.

Mas veja, eu nunca acreditei em amor. Então, acredite quando eu digo que o problema não é você, sou eu;  porque isso não é só mais um daqueles clichês que se falam quando se quer terminar um relacionamento sem magoar uma das partes.

O problema é que embora desacreditada, eu sempre fui romântica demais, e não consigo conviver com o fantasma da sua traição que não existe, mas eu mesma crio.
O problema é que embora eu pareça evasiva, eu sou carente demais, e não consigo disputar a sua atenção com as atribulações do seu dia a dia, suas amigas da faculdade, e seus 6 animais de estimação.
O problema é que embora eu pregue ser desapegada, sou extremamente egoísta, e quero só para mim, esse você que tem tantas coisas que eu consigo gostar...
O problema é que quando eu te digo para sumir, no fundo eu quero que você insista em arrancar de mim aquilo que me incomoda, e por vezes, nem eu mesma sei.
O problema é que eu quero de você um cuidado comigo que nem eu mesma tenho, uma atenção que desconheço, uma parte de você que eu nem sei se você tem pra me doar.

Mas o real problema de tudo isso, é que eu não posso exigir de uma pessoa tudo isso que eu quero exigir de você, porque eu escrevo sobre romances mas nunca soube lidar com o amor. E como o amor ainda é novo para mim, eu tento pegar ele inteiro para mim, cada parte e cada pedaço que nem sei se me pertence, e não deve me pertencer.  Cada vez que estamos juntos e eu te toco, tento absorver por osmose esse “que” que existe em você que me faz tão bem, para que eu possa me sentir completa mesmo sabendo que eu preciso de você.

Visto tudo isso, eu vou partir, e como você sempre foi o mais racional de nós dois, você vai entender meus motivos.  E vai entender que o problema não é você, sou eu. O problema sou eu, que preciso tanto de você que nem eu mesma entendo,  e sinceramente, não desejo mais entender.


Eu vou partir durante essa madrugada, que é quando sei que seu sono é mais pesado. Quando acordar pela manhã, abra as portas e a as janelas, e deixe o ar levar o que sobrar de mim em você, porque eu não vou te deixar nem uma parte de mim pra se lembrar. Mas se olhar embaixo do seu travesseiro, ou no fundo dos seus olhos  – que sempre foram os locais que eu mais gostei de ficar – você verá que eu fui, mas te guardei comigo, em algum lugar nesse emaranhado que sou eu. E se quiser guardar um pouco de mim, o pedaço que você viu e gostou, guarde. Guarde em seu coração, mas não em sua memória. E não procure problemas em você  - porque o problema sempre fui eu.


Nathália Zarpellon






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