sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

As Verdades Que Ela Sabia Demais


Ouça enquanto lê:



"Você me disse que sabia o quanto um coração partido doía, por isso, jamais partiria o meu. Por que então você se foi, e eu me encontro com o coração machucado? Você me disse que sorrir fazia bem pra alma, e que eu deveria buscar a alegria em tudo o que fizesse. Então por que me deixou assim, cheio de vontade de chorar? Você me disse que as pessoas erram em esperar demais dos outros, então por que me deixou esperar demais de você?
 Você deveria ter pensado antes de me dizer todas as palavras que fizeram com que eu me apaixonasse por você menina. Você fez eu me apaixonar, mas não por dizer as coisas certas na hora certa, pelo contrário. Você era expert em cortar o “clima” com comentários aleatórios sobre a sua visão sobre o mundo. No entanto, foi essa sua visão do mundo que fez com que eu enxergasse em você algo além do que você costumava demonstrar.

 Você costumava agir ao contrário com aquilo que dizia ser certo. Porém, eu sabia que essa sua fora contraditória de agir, era uma espécie de proteção. Por exemplo, você dizia que devemos nos entregar ao amor sem medo de ser feliz. No entanto, você era a primeira que fugia quando se tratava de sentimentos.

“Faça o que eu digo não faça o que eu faço.”
Certo? Não sei. O que sei, é que estar com você me parecia certo. Me parecia certo dividir com você um pôr do sol no final do dia, me parecia certo ouvir sua gargalhada quando eu fazia pela 3ª vez uma mesma piada idiota, me parecia certo senti-la adormecer sobre meus ombros, me parecia certo vê-la borrar o rímel, para então consertar. E o que te parecia certo?

Te parecia certo quando eu te trazia um chocolate, e você estava de dieta, e depois de brigar comigo, você sorria e mordia um pequeno pedaço do chocolate. Te parecia certo me contar sobre como havia sido seu dia, e da pressão do seu chefe sobre você, enquanto dividíamos uma cerveja ao final do dia. Te parecia certo dormir ao meu lado, e acordar de madrugada sem saber onde estava, mas se acalmar ao perceber meu corpo junto ao seu. Te parecia tão certo, que te levou a desistir da gente.

Porque entre as muitas verdades que você e dizia, e que pareciam ser fruto de uma vida prematuramente madura, você se esqueceu de dizer que quando uma pessoa se sente segura demais com uma pessoa, ela desconfia. Ela desconfia tanto, que prefere voltar à sua antiga situação, do que se entregar a alguém que vai tirar seus pés do chão, mas pode acabar te derrubando. E com esse medo, você desistiu da gente.


Mas se você estiver lendo esse texto, que eu escrevi em uma folha de papel almaço, e deixei em uma cadeira de uma biblioteca, saberá que escrevi pra você. E quero que saiba também, que eu não estou disposto a tirar seus pés do chão, e sim a dar uma nova base onde eles possam caminhar. Porque assim como você, eu aprendi sobre o amor. A nossa diferença, é que o que eu sei sobre o amor, foi você quem me ensinou."


Nathália Zarpellon



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Carta A Você, Que A Perdeu

Ouça enquanto lê:

"Cara, eu tive que entender todas as dores dela, e me encher de uma paciência sobre humana para conseguir fazer com que ela te esquecesse. Eu enxerguei a garota incrível que ela era, mesmo escondida por trás daquela armadura de garota forte e indiferente. E nunca entendi porque ela se deixou envolver por um cara como você.
Ela merecia o máximo, e você lhe deu o mínimo do que você podia oferecer. Então, não adianta vir atrás dela agora, só porque ela está transbordando amor. O amor que ela transborda, é dela mesmo, mas fui eu quem reguei, e recuperei tudo o que você havia destruído.

Ela é dona do sorriso mais lindo desse mundo, e você deve saber que não há alegra maior do que ver ela abrir aquele sorriso ao te ver. Ela me disse que não sorria com você há muito tempo. Como você pôde, tendo a capacidade de fazê-la sorrir, fazê-la chorar?

Ela fala com pressa, como se tivesse pouco tempo no mundo, às vezes atropela as palavras. Então, você deveria saber que ela odeia esperar. Esperar por atitudes, esperar por palavas, esperar por um tempo que você nunca dedicava a ela.
Ela adora que elogiem seus olhos. Mas você só tinha olhos para você.
Suas mãos? Macias como o toque do veludo. Adoro andar com ela de mãos dadas, e sentí-las junto às minhas. Mas você? Ela me disse que não gostava de segurar suas mãos...
Ela é um pouco teimosa, mas sabe escutar também. Mas não em assuntos de coração. Ela não muda as suas atitudes porque uma pessoa aconselha de que é o melhor a se fazer. Mas ela muda suas atitudes por pessoas que não sabem valorizá-la. E foi por isso que ela mudou tanto depois de te conhecer.

Ela me disse que era carinhosa, e cumprimentava os amigos com um abraço. Mas depois de você, começou a manter uma certa distância – que ela chamava de distância segura – entre ela e as demais pessoas.
Ela se abria com facilidade, e pessoas desconhecidas conheciam um pouco da sua vida se fossem um pouco simpáticas. Mas custou para mim arrancar por exemplo, que ela tinha tido um ex namorado, e que ele havia sido o responsável por essa mudança drástica em sua personalidade.
Ela queria ter uma família. E então, desistiu até da ideia de se casar. Falava que não acreditava em amor, nem em finais felizes.

Mas ainda assim, eu insisti, e aos pouquinhos, aquela amadura toda de garota auto suficiente foi abrindo umas brechas, e mostrando a garota que ela era, de verdade. E ela é uma pessoa sensacional.
Engraçada, carinhosa, amorosa e com um grande coração. Inteligente, esforçada, ocupada, mas sempre arruma um tempo para ajudar os amigos. Quem ganha espaço no seu coração, não perde tão cedo, não.
E agora que você perdeu esse espaço que tinha, e ele já foi preenchido por outra pessoa, vem pedir para ela te perdoar, e dizer que percebeu o grande erro que cometeu? Você errou mesmo, rapaz. Errou e errou feio. Mas infelizmente, esse erro não tem mais como reparar.

Você tem noção de como doeu para ela, todas as vezes que ela te ligou, e você não atendeu, que ela esperou, e você não foi, que ela te chamou, e você ignorou? É difícil amar sozinho, rapaz.
Então, sinta o gosto amargo que ela sentiu, a mesma falta que ela sentiu de você.

E não se engane. A garota insegura que você conheceu há um tempo atrás, não existe mais. Ela deu lugar a uma mulher, completa, que não precisa de ninguém ao seu lado para ser feliz. Mas eu tive sorte, pois ela me escolheu parar estar ao lado dela.
E você? Não passa de uma página virada no livro dela, que ela fez questão de superar e usar de aprendizado. Não se comete o mesmo erro duas vezes, e ela aprendeu essa lição."

Nathália Zarpellon






quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Então Vai



Ouça enquanto lê:



"Você quer ir? Então vai. Leva tuas roupas do meu armário, afinal, elas sempre o deixaram desorganizado. Vai, e leva com você a tua tartaruga – eu nunca entendi qual a graça que você via em ter uma tartaruga. Vai, e também leva com você tuas borras de café – você andava com a xícara de café pelos cômodos da casa, e desastrada como só você era, derrubava em tudo. E avoada, se esquecia de limpar. Por isso que eu entendia tua mãe quando ela te chamava de bagunceira, mas não falava nada, para que não brigasse comigo.
Mas não adiantava. Você sempre arrumava um motivo novo pra brigar comigo. Culpa do teu gênio forte. Quem mandou gostar de uma taurina com ascendente em escorpião?
Esse teu gênio me encantava, me tirava do sério, me apaixonava e me irritava, tudo ao mesmo tempo. Então, você deveria entender quando eu comecei a perder a paciência com você.
Porém, egocêntrica como sempre, você só viu o teu lado. Mas eu não te culpo por isso. Você sempre foi a mesma menina mimada e geniosa desde o começo do nosso relacionamento. Já eu, era um poço de calmaria. Mas sabe como é, se você joga pedra atrás de pedra na água mais calma, ela se agita.
E era isso. Você agitava a minha calmaria, e bagunçava tudo em mim, assim como bagunçava tudo do lado de fora também. Quando eu me vestia pra sairmos, você sempre me fazia trocar de bermuda, tirar o boné, colocar de novo. Você tirava as roupas da gaveta e sequer lembrava de colocá-las de volta. Eu não achava isso ruim – no começo.
Mas depois, comecei a estranhar a mim mesmo, e acabei exteriorizando esse estranhamento nas minhas pequenas explosões com você. Assustada, você me ameaçava ir embora cada vez que me fazia perder a paciência. “Eu não te conheço mais” – você dizia. Mas nem eu me conhecia mais...
Portanto, você deveria entender quando me disse pela milésima vez “eu vou embora”, e eu finalmente te disse “vai logo então. E bata a porta antes de sair.” E você foi. Mesmo eu não acreditando, você foi.
Quer ir?
Então vai. Leva tuas inúmeras cores de batom vermelho, que na boca ficam tudo da mesma cor. Vai, e leva com você todos os teus lanches “lights” que estão mofando na geladeira, porque no fim, você sempre comia metade do meu lanche mesmo. Vai, e leva aquele enfeite horroroso que a tua mãe te deu, e que eu falei que achava lindo pra agradar a ela, ou melhor, pra te agradar. Vai, e leva tuas roupas, mas não esquece a tua blusa de frio – eu sempre precisava levar ela no final do expediente pra você não passar frio na faculdade.
Vai, e leva o seu shampoo que está no box do banheiro. Nunca entendi como um shampoo podia deixar cheiro no banheiro todo, esse cheiro de você.
Vai, e leva contigo todos os bons momentos e bons dias que passamos – como aquela vez em que fomos no parque, correr, e começou a chover. E você riu, e começou a me beijar, na chuva. Ou como aquele dia em que minha irmã deixou o cachorro dela para a gente cuidar, e no meio da noite, acordei com você e o cachorro na minha cama. Eu nunca gostei de cachorro na cama, mas pra ver aquele seu sorriso travesso quando percebeu que eu tinha acordado, eu deixei.
Vai, e leva tudo... Aliás, tudo, não. Só te peço pra deixar algumas coisas: me deixa um pouco de seu perfume, me deixa metade dos nossos retratos, e me deixa um pedaço do seu coração, que é pra eu me lembra de você nos dias mais frios. Na verdade, mesmo que você não me deixe nada, eu ainda vou lembrar de você. Mas eu quero que você deixe essas coisas, que é pra eu me convencer de que você as esqueceu – e um dia, volta pra pegar – e pra ficar."

Nathália Zarpellon