sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

As Verdades Que Ela Sabia Demais


Ouça enquanto lê:



"Você me disse que sabia o quanto um coração partido doía, por isso, jamais partiria o meu. Por que então você se foi, e eu me encontro com o coração machucado? Você me disse que sorrir fazia bem pra alma, e que eu deveria buscar a alegria em tudo o que fizesse. Então por que me deixou assim, cheio de vontade de chorar? Você me disse que as pessoas erram em esperar demais dos outros, então por que me deixou esperar demais de você?
 Você deveria ter pensado antes de me dizer todas as palavras que fizeram com que eu me apaixonasse por você menina. Você fez eu me apaixonar, mas não por dizer as coisas certas na hora certa, pelo contrário. Você era expert em cortar o “clima” com comentários aleatórios sobre a sua visão sobre o mundo. No entanto, foi essa sua visão do mundo que fez com que eu enxergasse em você algo além do que você costumava demonstrar.

 Você costumava agir ao contrário com aquilo que dizia ser certo. Porém, eu sabia que essa sua fora contraditória de agir, era uma espécie de proteção. Por exemplo, você dizia que devemos nos entregar ao amor sem medo de ser feliz. No entanto, você era a primeira que fugia quando se tratava de sentimentos.

“Faça o que eu digo não faça o que eu faço.”
Certo? Não sei. O que sei, é que estar com você me parecia certo. Me parecia certo dividir com você um pôr do sol no final do dia, me parecia certo ouvir sua gargalhada quando eu fazia pela 3ª vez uma mesma piada idiota, me parecia certo senti-la adormecer sobre meus ombros, me parecia certo vê-la borrar o rímel, para então consertar. E o que te parecia certo?

Te parecia certo quando eu te trazia um chocolate, e você estava de dieta, e depois de brigar comigo, você sorria e mordia um pequeno pedaço do chocolate. Te parecia certo me contar sobre como havia sido seu dia, e da pressão do seu chefe sobre você, enquanto dividíamos uma cerveja ao final do dia. Te parecia certo dormir ao meu lado, e acordar de madrugada sem saber onde estava, mas se acalmar ao perceber meu corpo junto ao seu. Te parecia tão certo, que te levou a desistir da gente.

Porque entre as muitas verdades que você e dizia, e que pareciam ser fruto de uma vida prematuramente madura, você se esqueceu de dizer que quando uma pessoa se sente segura demais com uma pessoa, ela desconfia. Ela desconfia tanto, que prefere voltar à sua antiga situação, do que se entregar a alguém que vai tirar seus pés do chão, mas pode acabar te derrubando. E com esse medo, você desistiu da gente.


Mas se você estiver lendo esse texto, que eu escrevi em uma folha de papel almaço, e deixei em uma cadeira de uma biblioteca, saberá que escrevi pra você. E quero que saiba também, que eu não estou disposto a tirar seus pés do chão, e sim a dar uma nova base onde eles possam caminhar. Porque assim como você, eu aprendi sobre o amor. A nossa diferença, é que o que eu sei sobre o amor, foi você quem me ensinou."


Nathália Zarpellon



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Carta A Você, Que A Perdeu

Ouça enquanto lê:

"Cara, eu tive que entender todas as dores dela, e me encher de uma paciência sobre humana para conseguir fazer com que ela te esquecesse. Eu enxerguei a garota incrível que ela era, mesmo escondida por trás daquela armadura de garota forte e indiferente. E nunca entendi porque ela se deixou envolver por um cara como você.
Ela merecia o máximo, e você lhe deu o mínimo do que você podia oferecer. Então, não adianta vir atrás dela agora, só porque ela está transbordando amor. O amor que ela transborda, é dela mesmo, mas fui eu quem reguei, e recuperei tudo o que você havia destruído.

Ela é dona do sorriso mais lindo desse mundo, e você deve saber que não há alegra maior do que ver ela abrir aquele sorriso ao te ver. Ela me disse que não sorria com você há muito tempo. Como você pôde, tendo a capacidade de fazê-la sorrir, fazê-la chorar?

Ela fala com pressa, como se tivesse pouco tempo no mundo, às vezes atropela as palavras. Então, você deveria saber que ela odeia esperar. Esperar por atitudes, esperar por palavas, esperar por um tempo que você nunca dedicava a ela.
Ela adora que elogiem seus olhos. Mas você só tinha olhos para você.
Suas mãos? Macias como o toque do veludo. Adoro andar com ela de mãos dadas, e sentí-las junto às minhas. Mas você? Ela me disse que não gostava de segurar suas mãos...
Ela é um pouco teimosa, mas sabe escutar também. Mas não em assuntos de coração. Ela não muda as suas atitudes porque uma pessoa aconselha de que é o melhor a se fazer. Mas ela muda suas atitudes por pessoas que não sabem valorizá-la. E foi por isso que ela mudou tanto depois de te conhecer.

Ela me disse que era carinhosa, e cumprimentava os amigos com um abraço. Mas depois de você, começou a manter uma certa distância – que ela chamava de distância segura – entre ela e as demais pessoas.
Ela se abria com facilidade, e pessoas desconhecidas conheciam um pouco da sua vida se fossem um pouco simpáticas. Mas custou para mim arrancar por exemplo, que ela tinha tido um ex namorado, e que ele havia sido o responsável por essa mudança drástica em sua personalidade.
Ela queria ter uma família. E então, desistiu até da ideia de se casar. Falava que não acreditava em amor, nem em finais felizes.

Mas ainda assim, eu insisti, e aos pouquinhos, aquela amadura toda de garota auto suficiente foi abrindo umas brechas, e mostrando a garota que ela era, de verdade. E ela é uma pessoa sensacional.
Engraçada, carinhosa, amorosa e com um grande coração. Inteligente, esforçada, ocupada, mas sempre arruma um tempo para ajudar os amigos. Quem ganha espaço no seu coração, não perde tão cedo, não.
E agora que você perdeu esse espaço que tinha, e ele já foi preenchido por outra pessoa, vem pedir para ela te perdoar, e dizer que percebeu o grande erro que cometeu? Você errou mesmo, rapaz. Errou e errou feio. Mas infelizmente, esse erro não tem mais como reparar.

Você tem noção de como doeu para ela, todas as vezes que ela te ligou, e você não atendeu, que ela esperou, e você não foi, que ela te chamou, e você ignorou? É difícil amar sozinho, rapaz.
Então, sinta o gosto amargo que ela sentiu, a mesma falta que ela sentiu de você.

E não se engane. A garota insegura que você conheceu há um tempo atrás, não existe mais. Ela deu lugar a uma mulher, completa, que não precisa de ninguém ao seu lado para ser feliz. Mas eu tive sorte, pois ela me escolheu parar estar ao lado dela.
E você? Não passa de uma página virada no livro dela, que ela fez questão de superar e usar de aprendizado. Não se comete o mesmo erro duas vezes, e ela aprendeu essa lição."

Nathália Zarpellon






quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Então Vai



Ouça enquanto lê:



"Você quer ir? Então vai. Leva tuas roupas do meu armário, afinal, elas sempre o deixaram desorganizado. Vai, e leva com você a tua tartaruga – eu nunca entendi qual a graça que você via em ter uma tartaruga. Vai, e também leva com você tuas borras de café – você andava com a xícara de café pelos cômodos da casa, e desastrada como só você era, derrubava em tudo. E avoada, se esquecia de limpar. Por isso que eu entendia tua mãe quando ela te chamava de bagunceira, mas não falava nada, para que não brigasse comigo.
Mas não adiantava. Você sempre arrumava um motivo novo pra brigar comigo. Culpa do teu gênio forte. Quem mandou gostar de uma taurina com ascendente em escorpião?
Esse teu gênio me encantava, me tirava do sério, me apaixonava e me irritava, tudo ao mesmo tempo. Então, você deveria entender quando eu comecei a perder a paciência com você.
Porém, egocêntrica como sempre, você só viu o teu lado. Mas eu não te culpo por isso. Você sempre foi a mesma menina mimada e geniosa desde o começo do nosso relacionamento. Já eu, era um poço de calmaria. Mas sabe como é, se você joga pedra atrás de pedra na água mais calma, ela se agita.
E era isso. Você agitava a minha calmaria, e bagunçava tudo em mim, assim como bagunçava tudo do lado de fora também. Quando eu me vestia pra sairmos, você sempre me fazia trocar de bermuda, tirar o boné, colocar de novo. Você tirava as roupas da gaveta e sequer lembrava de colocá-las de volta. Eu não achava isso ruim – no começo.
Mas depois, comecei a estranhar a mim mesmo, e acabei exteriorizando esse estranhamento nas minhas pequenas explosões com você. Assustada, você me ameaçava ir embora cada vez que me fazia perder a paciência. “Eu não te conheço mais” – você dizia. Mas nem eu me conhecia mais...
Portanto, você deveria entender quando me disse pela milésima vez “eu vou embora”, e eu finalmente te disse “vai logo então. E bata a porta antes de sair.” E você foi. Mesmo eu não acreditando, você foi.
Quer ir?
Então vai. Leva tuas inúmeras cores de batom vermelho, que na boca ficam tudo da mesma cor. Vai, e leva com você todos os teus lanches “lights” que estão mofando na geladeira, porque no fim, você sempre comia metade do meu lanche mesmo. Vai, e leva aquele enfeite horroroso que a tua mãe te deu, e que eu falei que achava lindo pra agradar a ela, ou melhor, pra te agradar. Vai, e leva tuas roupas, mas não esquece a tua blusa de frio – eu sempre precisava levar ela no final do expediente pra você não passar frio na faculdade.
Vai, e leva o seu shampoo que está no box do banheiro. Nunca entendi como um shampoo podia deixar cheiro no banheiro todo, esse cheiro de você.
Vai, e leva contigo todos os bons momentos e bons dias que passamos – como aquela vez em que fomos no parque, correr, e começou a chover. E você riu, e começou a me beijar, na chuva. Ou como aquele dia em que minha irmã deixou o cachorro dela para a gente cuidar, e no meio da noite, acordei com você e o cachorro na minha cama. Eu nunca gostei de cachorro na cama, mas pra ver aquele seu sorriso travesso quando percebeu que eu tinha acordado, eu deixei.
Vai, e leva tudo... Aliás, tudo, não. Só te peço pra deixar algumas coisas: me deixa um pouco de seu perfume, me deixa metade dos nossos retratos, e me deixa um pedaço do seu coração, que é pra eu me lembra de você nos dias mais frios. Na verdade, mesmo que você não me deixe nada, eu ainda vou lembrar de você. Mas eu quero que você deixe essas coisas, que é pra eu me convencer de que você as esqueceu – e um dia, volta pra pegar – e pra ficar."

Nathália Zarpellon




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Carta Aos Que Vierem A Me Amar

Ouça enquanto lê:



"Eu costumava ser uma garota boa. Eu ouvia Beatles, me vestia de uma maneira comportada, e nunca pintava as unhas de preto. Eu não voltava para casa depois das 23h, não fumava, e desvirava o chinelo pra não correr o risco de matar a minha mãe. Qual é, vai dizer que vocês nunca ouviram falar na superstição do chinelo?
Eu sempre levava uma blusa quando saía, pro caso de esfriar, e se abusar, levava uma a mais para a minha irmã também. Eu tinha todas as atitudes que fariam uma garota ser considerada boa, mas a minha principal característica era a de jamais magoar as pessoas que eu amo.

Mas algo me mudaria para sempre. E não, não foi um estupro, uma perde de um ente querido, um acidente, e eu nem perdi um membro. Ou melhor, perdi um órgão vital: o coração.
Para mim, o coração nunca teve importância. Ou assim eu pensava, até vê-lo despedaçado e espalhado pelo chão da minha varanda.

Aconteceu o que acontece com todo mundo: eu me apaixonei. Eu me apaixonei, e o cara era um canalha. Toda garota já se apaixonou por um canalha, né? Pelo menos, era disso que eu tentava me convencer.
Não importava, na verdade, se toda garota se apaixonava por um canalha. De uma coisa eu não tinha dúvida: o meu tipo de canalha era o pior. Ele me encantou, e aprisionou meu coração. Claro que, boba que eu era, eu achava tudo lindo. Ele era o mais lindo do mundo, a voz dele me fazia flutuar, o sorriso dele me prendia ao chão, como a gravidade.

E então ele fez o que os canalhas fazem – quebrou meu coração. Ele quebrou meu coração, depois de me envolver e dizer que “não quero nada sério. Você entende, não é?”. Não, eu não entendia. Mas como estava apaixonada, concordei. Continuamos ficando, e a verdade é que ele só me via quando era conveniente para ele.

Até que um dia, em um dos meus passeios a uma livraria da cidade – não falei que eu era uma boa moça? – uma moça morena me perguntou, gentilmente, onde ficava a seção de livros infantis. Eu expliquei a ela, e vi ela se dirigir a um rapaz que folheava os gibis. Não preciso nem falar quem era o “rapaz” não é?

Sim, era o meu canalha. Meu não né.. naquele momento eu me dei conta de que, se ele estava me enganando, podia estar enganando outra mil. E da moça, mesmo querendo, nem raiva eu senti. Dava té pra entender porque ele ficava com ela, se não fosse o detalhe de que ele também ficava comigo.
Ok, ele não havia me prometido nada. Mas ele também não havia me dito que tínhamos um relacionamento aberto, pelo contrário. Até deixei ele ver meu celular, não uma, nem duas vezes.

E eu fiz a melhor coisa que podia fazer naquele momento. Sumi sem deixar rastros. Mudei de número, bloqueei ele em todas as redes sociais, e nunca mais fui àquele lugar, que dizíamos ser o nosso lugar. Ele tentou ligar em casa umas vezes, mas minha mãe, sempre amiga, dizia que eu não estava, ou que estava dormindo. E eu nunca mais o vi.

Porém, o que aconteceu teve uma força estranha sobre mim. Como já falei, eu era uma garota boa, e em coisa de um mês ou dois, eu deixei de ser. Eu não acordava mais esperando nada do meu dia, e nem dava bom dia às pessoas na rua. Eu parei de me vestir como “deveria me vestir”, e comecei a pintar as unhas de preto.
Mas o principal: eu deixei de ser a garota que jamais magoaria as pessoas que amava, até porque, jurei nunca mais amar ninguém. E me tornei aquela mulher, o pesadelo de todo homem: fria, desapegada, e expert em quebrar corações.

Então, aos que vierem a me amar, deixo um recado: eu nunca mais vou amar ninguém, eu vou quebrar seu coração, e eu vou me tornar a destruidora dos seus sonhos. Muitos antes de vocês já tiveram seus corações partidos e se tornaram uma versão de mim, masculinas.

Mas acreditem, eu não faço por mal. Às vezes, uma pessoa muda a gente por completo, e quem acaba pagando o preço da mudança é quem não tem nada a ver com isso.

Então, peço que me perdoem as grosserias e a falta de sensibilidade. Peço que entendam minha dificuldade em ficar pra dormir, após o jantar, e a dificuldade em contar coisas comuns, como o nome do meu cachorro.
Eu ate tinha um coração, mas ele deixou de bater há muito tempo."

Nathália Zarpellon






sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As Palavras Que Nunca Te Direi

Ouça enquanto lê:


“Ela entrou e eu estava ali...”

Começo esse texto com uma famosa frase de uma música do Skank, porque foi exatamente o que aconteceu. Ela entrou no bar que eu sempre frequentava, e por um instante fugaz achei que ela tinha ido até lá para me ver. Mas ela não tinha como saber que eu frequentava tal bar, porque eu nunca disse isso a ela – assim como tantas outras coisas que eu devia ter dito, e não disse.

Ela entrou e se dirigiu a um grupo de meninas – deviam ser suas amigas, mas eu não conhecia nenhum rosto. Deviam ser novas amigas, porque ela sempre me falava com carinho de todas as suas amigas. Diferente de mim, que mal falava sobre mim com ela.
No tempo que ela levou para se dirigir da porta do bar até a mesa, muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Lembrei de tudo, lembrei de nada. Enquanto ela andava, pude me lembrar de todas as vezes em que ela andou ao meu encontro. Quando ela sorriu e acenou, lembrei-me de quando ela sorria ao me ver, e até do dia em que ela sorriu e foi me abraçar, e eu me esquivei. Será que esse foi o começo do fim? – pausa dramática.
Se foi o começo do fim ou o decisivo final, eu nunca vou saber. Em um dia ela estava me mandando mensagens querendo saber se eu tinha me recuperado da gripe, e no seguinte, veio ao meu encontro sem sorrir – eu estranhei – e me disse que não dava mais. Sem muitas explicações, ela disse que devíamos seguir caminhos separados. E mesmo querendo falar, eu não disse nada. E ela se foi.

Eu não disse por exemplo, que nunca tinha dormido e acordado com alguém do meu lado. Porém, quando acordei e a vi ao meu lado, tive a certeza que era ao lado dela que eu queria acordar por toda a minha vida.
Também não lhe perguntei quem iria conversar comigo sobre tudo, e sobre nada, ou quem iria me aconselhar a dormir cedo, a beber menos, ou a ficar em casa quando estivesse gripado.
Também não disse a ela como ela estava linda naquela viagem que fizemos até a praia, e que quando ela entrou sozinha no mar, e eu a vi sair, tive a certeza que não queria mais nada na vida, que não fosse ela, meu cachorro, e duas filhinhas. Duas filhas, porque eu queria que elas puxassem a beleza e o bom coração da mãe – eu nunca fui tão bom em perdoar quanto ela.



Deve ter sido a intensidade desse sentimento que me fez ter medo de continuar, e como quem vai tirando o time de campo de um em um jogador, eu acabei me afastando dela aos pouquinhos. As mensagens que antes eram muitas, foram se tornando mais escassas. E percebendo, ela foi me dando o espaço que inconscientemente, eu queria.
E então, eu comecei a tratar ela um pouco mais friamente – talvez nem eu mesmo percebesse, mas ela percebeu. E diversas vezes ela me perguntou o que eu tinha, e eu respondia que nada, porque eu achava que não tinha nada.

Mas eu não tinha “nada”. Eu tinha ela, essa menina maravilhosa que se escondia por trás da aparência de uma mulher forte.
Mas com essas atitudes pequenas – como não abrir mais a porta do carro para ela – eu passei a ter menos, menos, até o dia em que eu realmente não tive mais nada. Mais nada dela.

E agora, vendo ela assim – tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, tão bela e ao mesmo tempo tão fria – me deu uma saudade danada daquela menina. Me deu saudade daquela pequena mostrando esmaltes para mim e me perguntando qual eu preferia – e eu nunca entendia os nomes das cores, mas escolhia um só pra deixa-la feliz.

Acho que no final, é isso o que conta, as pequenas atitudes que a gente toma pra deixar o outro feliz. E quando a gente deixa de tomar essas pequenas atitudes, isso conta também – conta pra se fazer a operação de somar-o-que-foi-feito e subtrair-o-que-deixou-de-ser-feito. E nessa conta, é que eu saí perdendo.

E vendo ela assim, tão completa, eu até tenho vontade de ir lá e falar tudo o que devia ter falado e não consegui. Mas sinceramente? Ela está tão completa que acho melhor deixar assim. Sem reabrir feridas já fechadas.
Ela está bem, e que continue assim. E e eu? Bem, vou ficar bem. Mesmo sabendo que ela está ali, e eu aqui. Eu vou ficar bem. Eu-vou-ficar-bem. Quem sabe se repetir bastante eu acredito?

Nathália Zarpellon




terça-feira, 10 de novembro de 2015

Se Enganou, Meu Bem


"Você pensou que eu ficaria péssima sem você. Pensou que eu iria chorar por dias sem fim, e que quando você cruzasse comigo se espantaria com o tamanho das minhas olheiras. Você pensou que eu nunca mais frequentaria o bar da faculdade, que não conseguiria estudar pras provas finais – e pensou até que eu pegaria alguns exames. Você pensou que eu iria trocar de status todos os dias, te dando mil indiretas diferentes. Pensou que eu emagreceria 1kg ou 2, porque você me faria perder a minha fome. Pensou que eu iria sentir a sua falta, e que encheria a cara na primeira oportunidade, e me arrependeria quando estivesse curtindo a ressaca. Você pensou que eu ia te culpar pela minha má sorte, pelas minhas más escolhas e pelas minhas notas ruins. Você pensou que conseguiria me falar que queria que eu te deixasse em paz, porque eu não te deixaria me esquecer.

Qual não foi a sua surpresa quando você então me viu no bar da faculdade, cercada de amigos, rindo como há um tempo eu não fazia. Sua cara quase foi no chão quando, usando o facebook de um amigo seu, você viu o print das minhas notas sendo postado, e nenhuma nota vermelha. Eu pude notar a surpresa em seus olhos quando você olhou nos meus, e não encontrou as olheiras que esperava encontrar.

Você achou o que? Que você era o centro da minha vida? Sinto te dizer, mas você nunca foi nem parte dela.
Quando eu ia dormir às 21h e dizia que estava cansada do dia no trabalho, você achava que eu não falava sério. Mas a verdade é que eu sempre mantive a minha cabeça tão ocupada que nem sobrou espaço pra sequer sentir sua falta. Pelo contrário!

Quando nos afastamos, até a minha mãe chegou a me dizer que eu estava bem menos irritada. Porque nos últimos dias, você não conseguia me trazer muita coisa que não fosse irritação, meu bem. Enquanto se achava o centro da minha vida, você não percebia que você era a parte do meu dia que me causava crises gástricas. Na verdade, você nunca deu atenção quando eu comentava com você que meu estômago estava dolorido. Você sempre foi muito bom em olhar para você.

E eu sempre fui muita boa em colocar pontos finais nas partes da minha vida que claramente não me serviam mais. E foi isso que eu vi em você, um cara que um dia havia sido meu porto seguro, mas não me servia mais. Não pense que eu falo isso por ser insensível, mas feliz ou infelizmente, é a verdade. Você me trazia sorrisos e me deixava feliz, mas de um dia pro outro parou de me trazer bons sentimentos. E como eu nunca estive cega, ou apaixonada por você – o que dá na mesma – consegui te dizer que não queria mais.

Então, não se engane ao pensar que eu vou deixar de estudar, de sair, ou de viver por sua causa. Não pense que eu vou evitar frequentar os mesmos lugares que você. Não pense que eu vou evitar ouvir as músicas que um dia ouvimos juntos. Não pense que eu vou sair por aí com cara de quem perdeu alguém e não gostou.

Porque, meu bem, não existe forma de se perder algo que nunca se teve. E eu nunca tive realmente você."
Nathália Zarpellon





segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Coração de Vidro

Ouça enquanto lê:


"No começo, foi difícil. Eu me senti dilacerada, como se meu coração estivesse se partindo em mil pedacinhos, e que na medida em que eu tentava pegá-los, acabava me cortando com um e outro, como se em minhas mãos eu tivesse cacos de vidro. Depois de muito penar, consegui pegar os pedacinhos e arrumá-los novamente – e não sei como, eles se rearranjaram para formar um novo coração, feito da mesma matéria-prima anterior, mas melhorado. Falando assim, parece que foi um longo processo, mas eu digo que não foi. Foi um processo rápido, na verdade. Em pouco menos de um mês a menina do grande coração de manteiga dava lugar á mulher do reduzido coração de pedra.
Reduzido, sim, pois nessa do meu coração se despedaçar, acabaram se perdendo alguns pedacinhos pelo caminho. Algo que eu julgava impossível – perder uma parte do meu grande coração – agora se materializava diante dos meus olhos. Eu me tornara o que tanto temia e almejava me tornar: uma pessoa fria, despreocupada com as pessoas e com seus sentimentos. Justo eu, que sempre fui tão expansiva e tão cuidadosa com todos à minha volta...
Engraçado como algumas pessoas tem uma espécie de poder em nossas vidas. Sempre nos achamos tão autossuficientes, e de repente um completo desconhecido se torna tudo – ou boa parte disso – para nós, e no instante seguinte uma atitude dele (ou dela) nos muda completamente por dentro.
Depositamos nossas expectativas nas pessoas, como uma criança que deposita suas moedas em um cofrinho e espera que logo ele revele uma grande fortuna. Na verdade, quando a criança abre o cofrinho, constata, decepcionada, que só encontra nele o que ela mesma havia depositado. Percebe por que as pessoas em quem depositamos nossas expectativas são as mais perigosas? Porque cedo ou tarde, vamos nos deparar com seu interior, e por mais existam umas moedinhas a mais, nunca vamos encontrar toda aquela fortuna que esperávamos. E as expectativas que cultivamos com tanto emprenho serão a lembrança do que gostaríamos de encontrar, e não conseguimos.
Todas as pessoas são assim, vazias, no final? As que conheci até então, sim. Em todos os meus ciclos de relacionamentos, ao final me encontrei vazia como não estava antes deles. E eu acho que esse não é o sentido da coisa toda que se chama vida.
Ao final de todos esses ciclos, cheguei a uma conclusão: não vale a pena me apegar às pessoas, pois todas as vezes em que me apeguei vi pequenos pedaços de mim indo embora quando elas iam.
Graças a Deus ou ao destino, pude ver essas verdades me sendo reveladas em um intervalo de um dia ou dois. E depois de me deparar com as respostas que demorei uma vida para encontrar, percebi que não valia mesmo a pensa continuar sendo tão generosa, e boba também. As pessoas me diziam para não mudar o meu jeito: “Esse jeito é seu, não adianta querer mudar.”
Mas eu acho que jeito também não é uma coisa permanente. As pessoas tem um jeito que é uma pedra bruta que vai sendo lapidada e melhorada – e foi isso o que aconteceu com o meu coração daquela vez em que ele se dilacerou em pedacinhos. Eu finalmente assumi que possuía o controle da minha própria vida, e remontei meu coração melhorado.
O coração que um dia havia sido mole, endureceu. Aquela menina que havia sido feita de boba, aprendeu a fazer de bobo quem merecia- e até quem não merecia também. O riso fácil tornou-se selecionado para as pessoas que faziam por merecer. E o amor incondicional que antes eu dedicava aos outros, descobri que não precisava mudar. Era só dedica-lo a pessoa que sempre o mereceu: eu mesma."

Nathália Zarpellon




sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Carta Para Um Estranho

Ouça enquanto lê:



"Querido estranho, eu não sei bem quem é você ou de quem se trata. Não sei se você terá cabelos escuros e lisos, ou loiro e cacheados, tampouco se gostará de usar o cabelo raspado. Não sei quanto de altura você tem, nem sei se é magro, fortinho, musculoso. Eu não sei como você gosta do seu pão de manhã – ou se você prefere comer ovos mexidos.
Eu não sei qual a sua idade, nem o saldo da sua conta bancária. Não sei se você tem filhos de outro relacionamento, ou se não suporta crianças; não sei se mora sozinho, ou se ainda mora com a sua mãe (ou com o seu pai. Ou com a sua vó).

Mas uma coisa eu sei: você já tem um espaço garantido na minha vida, o meu guarda roupa, e tem até uma repartição no armário do banheiro. Não que eu seja uma psicopata que guarda lugar para uma pessoa que nem conhece. Mas é que antes de você chegar, eu acabei dando o seu espaço para outro estranho, e outro antes dele.
Eles começaram como estranhos, se tornaram conhecidos, e saíram da minha vida ainda mais estranhos do que quando eu não os conhecia. Isso deveria ter me feito desacreditar no amor – e de fato, me fez desacreditar por um tempo.

Ou para ser sincera, eu dizia por aí que não acreditava, mas no fundo, aquele pedaço de garota boba sempre esteve aqui dentro. Aquele pedaço que toda mulher tem, aquela esperança de achar seu príncipe encantado.

Acredite, eu me dei conta de que príncipes encantados não existem – mas eu não deixei de acreditar no amor por conta disso. Os príncipes não existem, mas existem pessoas reais, que cá entre nós são bem mais interessantes que os príncipes das histórias da Disney. Os príncipes das histórias não dão beijos apaixonados em suas princesas. Nem frequentam lugares da moda, como MC Donald’s, ou baladas. Os príncipes das histórias andam a cavalo – e eu sempre preferi sentir o vento quando ando de moto.

Na verdade, não me importa se você se parece um príncipe ou vai aparecer disfarçado do meu melhor amigo, se vamos nos conhecer numa cafeteria, ou naquele meu tão sonhado esbarrão (em que eu derrubo todas as coisas no chão e você me ajuda a pegá-las, me lançando aquele olhar de velho reconhecimento).
O que importa, é que eu sei que você está aí, em algum lugar. Você não sabe da minha existência – e como poderia, sendo que nem eu sei quem você é?  Mas eu sei que está todas as pessoas tem reservado para si um amor de tirar o fôlego, o homem ou mulher da sua vida, uma paixão arrebatadora. E eu sei que um dia, por descuido do destino, vamos nos esbarrar numa dessas esquinas da vida.

Acho importante que você saiba algumas coisas sobre mim. Eu sou diferente de todas as garotas que você conheceu até agora. Sou sincera até a raiz dos meus cabelos naturalmente castanhos. Não gosto de conversar olhando nos olhos, mas quando a coisa ficar séria, vou te pedi apara olhar nos meus olhos. Quando eu fico brava, não sei disfarçar. Qualquer um percebe, a metros de distância. Detesto quem demorar pra me responder, ou quando me deixam esperando. Eu amo ler livros, mas dificilmente termino algum. Na verdade, dificilmente eu termino alguma coisa, isso inclui amizades, ou relacionamentos. Eu gosto de rosa, mas nada me impede de não suportar usar nada dessa cor em um dia de mal humor. E não sou apaixonada pela vida, confesso. Estou mais para mais uma desiludida.

Mas saiba que, acima de tudo, eu nunca deixei de acreditar no amor. Não é porque eu quebrei meu coração uma vez, que eu vá quebra-lo de novo, certo? Na verdade, acho que quebrei ele umas 3 vezes. Mas tudo bem, com você vai ser diferente.

Por isso, querido estranho, lembre-se que não me importa como seja o seu rosto e o seu sorriso, contanto que você abra um sorriso quando estiver comigo. Não importa com o que você trabalha ou que horas acaba o seu dia – contanto que você ganhe o dia quando estiver ao meu lado. Não me importa o saldo da sua conta bancária – contanto que isso nunca te impeça de estar ao meu lado. Não me importa se você mora sozinho ou com os seus pais, contanto que me deixe entrar na sua casa – e na sua vida também.


Isso não é uma carta de uma garotinha iludida, que espera um presente do Papai Noel. São as confissões de uma garota que sabe que o amor vai chegar, e não vai estar embrulhado em uma caixa de presente – ele vai estar dentro de um estranho, que no entanto vai se revelar um velho conhecido."



Nathália Zarpellon




Pra Você Me Guardar Do Lado Esquerdo Do Peito

Ouça enquanto lê:



"É, eu vou embora. Mas fique tranquilo, vou deixar um pedaço de mim em você, pra que você possa guardar do lado esquerdo do peito. Aquele pedaço de mim que foi seu desde que você tirou meu primeiro sorriso.

Eu me lembro disso – da primeira piada sua que me fez sorrir naquele dia em que descobri que meu cachorro estava com câncer. Também me lembro que você esteve do meu lado quando finalmente tomamos a decisão de fazer a eutanásia. Então, não pense que eu vou embora por ingratidão.
Eu sempre prestei atenção em cada atitude sua que me fazia feliz – mesmo que não me fizesse feliz de verdade – mas a tentativa sempre valeu. Então, não pense que eu vou embora por não estar feliz.

Eu prestei atenção em cada carinho que você me fez – os beijos no rosto, os abraços nas horas certas, o simples troque da sua mão. Então, não pense que eu vou embora por insatisfação.
Eu escutei todas as coisas que você me disse – as coisas boas, e as ruins também. Mas sabe, essa coisa de ser uma esponja de sentimentos as vezes cansa, porque enquanto as pessoas vivem, a gente vai absorvendo tudo – sorrisos, abraços, lágrimas, brigas.

E você viveu – viveu cada instante da sua vida antes de me conhecer e depois de me conhecer continuou vivendo. Eu jamais seria egoísta de te pedir para parar de viver – mas é que eu me encontro parada no instante daquela piada que você fez e conseguiu me tirar um sorriso.
Naquele momento, eu deixei um pouco de ser eu pra ser a pessoa perfeita pra você – não que eu te culpe por isso, mas é meu jeito com todas as pessoas. Da mesma forma que eu deixo de ser eu pra ser a amiga que as minhas amigas precisam.

Eu custei a aceitar, porque como esponja de sentimentos que sou, encontro-me embebida no seu amor. Porém, não posso fechar os olhos para os fatos – o fato de que eu vou sempre ser a pessoa perfeita pra você, mas você não vai ser a pessoa perfeita para mim. Entenda que eu não estou em busca de perfeição – eu estou em busca de aceitação, de busca de amor-próprio.

Não dá pra viver esquecendo de mim pra pensar em você, ainda que inconsciente. Como já falei, estou tão cheia do meu amor por você que mal sobra espaço pelo meu amor-próprio por mim. Então, não pense que estou indo embora por falta de amor – na verdade é pelo excesso dele.
Mas você pode me guardar – do lado esquerdo do peito ou dentro do bolso da camisa que você usou quando fomos visitar meus pais. E você pode se lembrar de mim como a menina dos seus olhos, que te amou demais e não soube o que fazer com esse amor – por isso foi embora. Você pode me guardar – dentro da sua cabeça, dentro do seu armário ou dentro do seu coração – mas por favor, me guarde. Me guarde do lado esquerdo do peito, junto do seu coração – e por favor, me guarde."

Nathália Zarpellon




quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Maldição




"Maldição. Não sei desde quando comecei a associar esta palavra a você, mas sei que faz tanto tempo que o faço, que quase não consigo me referir a você com outro nome. Minha maldição, como prefiro dizer, embora eu não deva ter orgulho da posse de algo que me faz mal. Na verdade, faz tempo que não devo me orgulhar de nada do que tenho feito. Porque de tudo o que tenho feito, em nada concentro meus 100%. 100% da minha energia, da minha atenção, da minha disposição. Talvez 50% ainda sejam generosos. Isso se deve ao fato de você sempre aparecer nos mesmos lugares que frequento – ainda que em sonho, frequentemente me encher de recados na secretária eletrônica – dizendo que sente minha falta, me lembrando dos nossos momentos juntos – ou ainda me mandando um bombom, ou uma rosa, em um tempo perfeitamente calculado para não me deixar não te esquecer.

Não me concentro no trabalho, e entro no meu e-mail o tempo todo, com a ansiedade de uma adolescente para ver se me mandou alguma mensagem. Também checo o celular regularmente, mesmo quando estou “me divertindo” com meus amigos. E a caixa do correio. Só não preciso examinar minha mente, pois nesta você tem um – maldito – lugar guardado, que faz questão de aproveitar da forma mais espaçosa possível. E quando está sumindo dos meus pensamentos, volta a me atormentar, como um corvo me vigiando e esperando a hora de pegar meu coração em carne viva, desprotegido.

Não me entenda mal, nem sempre acho ruim ser abordada sutilmente por você (ou ainda não tão sutilmente assim). Mas o que tem acontecido comigo te transforma no causador da minha desgraça.. Das minhas noites mal dormidas, e dos dias sem comer também.

Às vezes, me perguntam se estou doente, devido à minha maneira de agir em piloto automático e quase não olhar no rosto de ninguém, e rapidamente digo que não. Mas logo penso “Mas estou amaldiçoada.” Porque não vejo uma outra maneira de explicar o efeito que você tem sobre mim. Por exemplo, uma mensagem sua apaga o brilho do meu rosto instantaneamente, um telefonema quase me faz vomitar. De que forma isso pode ser bom?

Ultimamente venho me perguntando o que me leva a não colocar um fim nisso – e logo me lembro que já tentei – e você me convenceu com o papinho de “vamos ser amigos, sempre nos demos tão bem! Não vejo porque por um fim em uma relação assim.” Ou então, após passarmos certo tempo afastados, “sinto sua falta” – a mensagem que derretia meu coração, e ainda derrete. Será que alguma vez tentei mesmo me desvencilhar de você?

E assim vamos levando a vida, sem assumirmos que temos uma relação. Nesse eterno vai e volta, como um movimento de um iô iô. Até quando diremos que temos “apenas uma amizade” ainda não sei, e se um dia vai deixar de ser isso – embora já seja mais do que isso – e quem sabe eu não acabei com isso porque não quero acabar. Porque é mais fácil fugir de mim, assim como fujo de você, do que encarar de uma vez e colocar um fim – ou encarar de uma vez e colocar um título para uma nova historia.

Assim sendo, acho que só tenho a opção de aceitá-lo como a minha maldição. A maldição que sempre vai me acompanhar, até que eu decida pelo contrário. A maldição que me nutre, e que me destrói. A minha maldição, da qual não quero me libertar. "


Nathália Zarpellon





Eu Queria Que Déssemos Certo ...



"Eu queria que déssemos certo, mas não consegui.
Eu repito essas palavras em minha cabeça mais 1050 vezes. Não me pergunte o porque do número – é apenas o únco que me veio a cabeça em meio a tantos pensamentos relacionados a você.
Eu tento me distrair com atividades rotineiras – como limpar o jardim ou acariciar meu cachorro – mas sempre volto a me perguntar por que não demos certo. Foi algo que eu fiz? Em um minuto, estávamos disputando quem aguentava mais tempo sem rir – e eu sempre perdia. E no minuto seguinte, eu estou disputando comigo mesma quando tempo aguento ficar sem chorar.
Assuntos do coração são complicados, admito. Mas nós nunca fomos complicados. Era fácil estarmos juntos, como se nos conhecêssemos de outras vidas. Portanto, realmente não entendo em que momento começamos a complicar tudo.
Conversávamos sobre tantas coisas... Eu deitava minha cabeça em seu peito e discorria sobre todos os assuntos do mundo – desde economia até futebol. E de repente, não temos mais sobre o que conversar. Nossos encontros são silenciosos, e as mensagens trocadas, secas como folhas no Cerrado.
Você estava aí, e eu aqui – mas sempre parecemos próximos como se estivéssemos os dois, aí ou aqui. E agora, quando nos encontramos em um mesmo ambiente, estamos mais distantes do que quando só o meio físico nos separava.
De onde veio essa distância? Foram os comentários que eu fiz a respeito daquela sua amiga que eu sempre soube que queria ficar com você? Ou foi aquele dia em que eu não te chamei pra entrar em casa? Me desculpe, eu estava cansada.
Viro e reviro cada detalhe que poderia ter nos feito ficar assim. E mesmo em todas essas buscas intermináveis por pistas que me levem a esse fato, não encontro nem vestígios.
Você parece não se importar. Antes me falava que até que ia no mercado – e mesmo que não se lembrasse de falar, sempre me trazia alguma porcaria de lá. Mas o espaço que surgiu entre nós te faz passar a noite acompanhando sua mãe no hospital, e só lembrar de me avisar no dia seguinte.
Não devia ser assim. Quando duas pessoas se gostam, é simples ficar juntos. É como respirar. Mas não foi o que aconteceu.
Ficarmos juntos era natural e fácil, e de repente se tornou controverso e problemático.
Você foi embora em algum momento que eu não sei bem ao certo, e eu continuo procurando esse momento. Eu quero ir embora, mas eu quero ficar. Eu quero ficar para ver se você não vai acabar voltando – e me dizendo que essa distância toda foi um erro.
E eu quero partir – eu quero ir em busca de outras primaveras e de outros sorrisos cheios de promessas, como foi o seu para mim durante esse tempo que pareceu muito.
Você foi embora, e eu fiquei. Ou talvez, seja eu quem tenha te tirado de dentro de mim como quem tira um pardalzinho que entra sorrateiro em casa. E por mais que eu quisesse que a gente desse certo, a gente não deu. E se foi você quem foi embora ou se fui eu, não importa mais. Porque a gente já foi embora há muito tempo."

Nathália Zarpellon





quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Uma Carta Para Minha Mãe

"Mãe, é ela. Finalmente, é ela.
Eu encontrei o amor da minha vida, e acho que você vai gostar muito dela. Ela gosta de bichos, e adora crianças. O apartamento dela é cheio de obras de arte abstrata, e quando eu fico olhando com aquela cara de “que-porra-é-essa” ela me beija e diz que vê um sentido em tudo aquilo. Ela gosta de ir ao teatro, também. Mas não gosta de ir ao cinema – diz que o escuro das salas dá sono.
Ela é completamente diferente de mim. Gosta de MPB, e é vegetariana-fanática. Vai ser difícil encher nossa geladeira juntos. [Sim, eu penso em casar também.]
Você sempre me falava que um dia eu ia achar uma garota que ia me conquistar, e aí eu ia aprender o que é amar.
E você tinha razão – como sempre tem. Eu encontrei o amor naqueles olhos castanhos que ficam verdes quando encontram a luz do sol. E pouco me importa se eles estão verdes ou castanhos, contanto que eu veja esses olhos brilhando por mim. Eu me encantei pelo sorriso de lado, e pelo biquinho que ela faz quando fica chateada. Eu me encanto por ela até quando ela faz um coque quando vai tomar banho – e não quer molhar o cabelo.
É, sei o que você vai dizer. Eu estou terrível e inegavelmente apaixonado, e estou gostando disso. Eu sempre achei que nunca ia achar um amor, e quando olhava você e o meu pai tinha certeza que nunca ia me sentir assim por alguém. Sorte a minha que me enganei.


Eu encontrei o amor naquele jeito de menina, e naquele jeito de mulher. E pouco me importa de qual jeito ela vai acordar amanhã, contanto que ela acorde do meu lado. Eu encontrei o amor no modo que ela olha a vida, e no jeito que separa o lixo em “reciclável ou não”.
Eu encontrei o amor no jeito que ela faz planos como se eles já estivessem acontecendo, e eu só queria que você soubesse, e ficasse feliz também.
Ah, e não precisa ficar preocupada. Nós vamos te dar três lindos netinhos com nomes de algum cantor de MPB, de um artista plástico, ou de um ativista que defende as causa animais.
Você dizia que eu ia encontrar um amor – e por sorte ou por destino, eu encontrei. Agora prepara o quarto pra gente, e tira aquela colcha do Star Wars, porque no próximo final de semana estaremos indo te visitar.
E eu espero de verdade que você goste dela – porque eu não gosto, eu a amo – e muito. E isso deve bastar pra te fazer feliz também."

Nathália Zarpellon

Apresentação

Bom gente, eu estou começando agora nesse negócio de blogs, então eu nem sei quem serão meus leitores. Mas mesmo sem saber quem são, acho importante vocês me conhecerem.

Eu me chamo Nathália, tenho 22 anos (mas não parece),  e moro em Sorocaba. 
Sou pisciana e me apego demais ao meu signo, porque ele, de muitos modos, me define. Sou intensa em tudo o que faço e especialmente com tudo que sinto. Não sou muito bem humorada, mas sou engraçada, juro. E sarcástica também. E muito amiga. Muito amiga mesmo. Mas sou vingativa também.

Escrevo desde que me entendo por gente (claro que estou sendo metafórica, aprendi a escrever quando tinha 7 anos, como todo mundo haha)
Mas meu amor pelas palavras começou quando estava na 4ª série e eu escrevi um texto sobre uma árvore, e minha professora chamou meus pais para falar o quanto meu texto tinha ficado bom. Desde então, já escrevi textos, músicas (apenas uma tem ritmo), e até já arrisquei um livro. Escrevi metade e parei. Comigo é tudo fase, sabem? Tem fases que eu escrevo sobre amores impossíveis, outras sobre corações partidos. Mas um tema comum em todos os textos é o amor.
Não gosto de finais, e deve ser por isso que não consegui terminar meu livro. E se vocês se atentarem, percebem que tenho dificuldade com os finais dos meus textos também.

Tenho muitos textos na minha página do facebook -> Vértices De Um Amore vai demorar pra passar todos pra cá. Nem sei se vale a pena passar todos, porque muitos deles nem me servem mais...

Mas eu prometo que vou postar os novos que fizer aqui, e arrisco dizer que até alguns que não vou querer expor no facebook, vou postar aqui.

Bom acho que é isso o que vocês precisam saber de mais relevante sobre essa garota que aqui escreve.


                                 (Criança aleatória só pra deixar a postagem mais "bunita")