"De vez em quando, bate um esgotamento. Um cansaço de estar sempre correndo atrás das pessoas. Uma sensação de nunca ser boa o suficiente. Um vazio, que parece ser tão profundo que não consigo encontrar sua origem. Claro que eu não falo nada pra ninguém. Aprendi a viver no mundo das aparências, ainda que me seja extremamente custoso. Ninguém quer realmente saber o que se passa dentro da gente, pois ninguém quer saber dos vazios do outro sem ter como preencher. E é esse o grande problema: os nossos vazios, só a gente pode preencher, e isso é complicado. Como preencher um buraco que você não sabe de onde vem, ainda mais quando a vida te fez mais de um buraco? Pior, quando você não se sente seguro o suficiente para estar bem, para se auto bastar? Me pergunto isso constantemente, sem de fato achar resposta. Mas quando posso, evito até mesmo me encarar, e admitir a mim mesma que me sinto fraca e vazia, sem rumo na vida. Como uma folha que o vento leva, joga, derruba, enquanto ela não oferece resistência. Como parar de depositar expectativas em si mesma, que nunca serão atendidas? Como ser aceita por alguém, quando você mesma não se aceita? Como fazer alguém feliz, quando você mesma não é? Ninguém sabe o que se passa aqui dentro. Afinal, quando o barulho na superfície é muito, ninguém imagina os ecos que existem nas profundidades. E com uma música ali, uma tagarelice aqui, eu vou fazendo barulho pra disfarçar o vazio do meu interior. E ninguém se importa, as pessoas são egoístas - claro, com algumas exceções. Às vezes, eu olho para os meus pais e me imagino na idade deles. Será que eu terei orgulho das conquistas que eu tive no passado, que é o presente que estou vivendo hoje? As atitudes de hoje, serão as lembranças de amanhã, é um dia, a única coisa que te resta são as lembranças. Como deixar sua marca no mundo quando não se sabe o que fazer com sua própria vida? Vivemos para sermos lembramos, mas passamos o tempo todo nos esquecendo do nosso verdadeiro valor. Presos à relacionamentos abusivos, infelizes. Presos a empregos que não são o que queríamos fazer. Presos aos paradoxos, ao julgamento das pessoas, aos olhares de quem está sempre pronto pra nós apontar nossas falhas. Tudo isso nos faz ir esquecendo de quem somos de verdade, por baixo das máscaras e sorrisos forcados. E eu me pergunto, quando a gente se esquece do nosso valor, será que dá tempo de se lembrar? Quando a gente está cheio de vazios, será que existe massa corrida que possa preencher esses tantos buracos? E eu vivo em dois mundos - aquele que aparento viver para os conhecidos, e esse abismo que existe dentro de mim. Não espero ser compreendida, tampouco, ouvida. E desse jeito, vou seguindo um dia após o outro, esperando um dia encontrar o santo graal que me dirá qual o sentido de tudo isso. Dessa grande viagem da vida."
"Eu gosto dela, eu sei. Não sei de nada. Só sei que eu gosto dela. E não gosto pouco, não. Eu gosto muito. Bastante. Pra caramba. Mas não o suficiente. Nunca o tanto que eu gostar dela vai ser o suficiente, porque essa mina merece mais. Ela merece ser amada e admirada todos os dias.
E não, não é pela aparência dela ou pelos cabelos sempre cuidados de quem-acabou-de-sair-do-salão. Nem pelo sorriso que quando ela abre, faz as estrelas parecerem opacas, de tanto que brilha. Nem mesmo pelo corpo que Deus esculpiu com todas as medidas certas pra ela. É mais do que isso. Aí ‘ces me perguntam: -mais?
Mais. É mais do que a beleza externa. É a beleza que ela tem por dentro, por baixo daquele rosto delicado e daquele cabelo que ela tem mania de mexer. É o tamanho que tem seu coração, e isso não é difícil de perceber. Ela é desatenta, mas sempre tem os olhos abertos para ver o sofrimento alheio. E além disso, ela faz o que pode pra mudar isso. Ela sente a dor dos animais que viram a carne que a gente come, ela sente a dor dos animais que são abandonados e explorados, ela sente a dor das crianças que que não tem pai. Ela tá sempre fazendo trabalho voluntário, dando lugar pros outros no ônibus, deixando ração e água na frente de casa, pra ajudar os cachorros de rua. Ela trabalha, estuda, cuida da casa, e vive ocupada. Mas ela sempre encontra tempo pra quem precisa dela, e não só as pessoas menos favorecidas. Pros amigos também. Sabe aquela frase: “um amigo me chamou pra cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso, e fui.” Perfeita pra ela. Porque ela é cheia de problemas, mas ela sempre deixa pra resolver os dela depois pra cuidar do problema de quem ela gosta.
Então meu amigo, se você tem lugar na vida dela, valorize, porque mina igual a ela ‘ce não acha mais não. Pode achar outras três, quatro cinco parecidas, mas igual? Não.
E é por isso que eu gosto dela. Um gostar que só aumenta a cada vez que eu vejo ela sorrir pra uma criança, pra um animal, pra um amigo, ou até pra mim."
"Fiquei com você por um tempo, que não foi muito. Não sei ao certo se foi um ou dois meses, ou quem sabe três? Nunca fui muito ligado em datas, coisa que sempre fez minhas namoradas reclamarem. Mas você não. Você não se importava se eu esquecia a data de um mês de namoro. Tampouco era uma pessoa que se importava muito com datas. Me lembro que você disse que não queria sair no dia dos namorados, porque era só uma data comercial. Pois é, você era diferente de todas as mulheres que eu já conheci, e foi esse seu jeito diferente que me chamou atenção desde o começo. Dessa forma, conseguimos levar o namoro por algum tempo. E eu poderia dizer que terminamos por ser muito diferentes. Mas você era diferente de tudo que eu já havia conhecido. Como poderia ser parecida com alguém, ainda que comigo? Eu nunca consegui ler seus pensamentos. Não sabia o que você queria, ou o que te desagradava, porque você sempre falava "tudo bem" quando eu te chateava. Nunca soube dizer se você não se importava ou fugia não se importar. Sendo um ou outro, não sei o que te motivava a agir desse jeito. E um belo domingo, em que cheguei mais cedo na sua casa para te fazer uma surpresa, você pareceu tensa ao me ver. Tampouco pareceu feliz com a surpresa. Depois de alguma insistência, consegui arrancar de você o que te incomodava. E dizendo estar com a cabeça cheia da faculdade, dizendo estar sobrecarregada com o trabalho, você falou que deveríamos parar de nos ver. Não entendi, mas concordei. Ainda assim, me pego pensando em você em horas impróprias do meu dia. Veja, esses dias fui comprar ração para o meu gato e comecei a lembrar de você na fila do caixa. Tiveram que me chamar 3 vezes para que eu finalmente passasse pagar. O que diabos passa na sua cabeça, ao fazer uma pessoa se apaixonar e sem mais nem menos, dizer que não tem espaço para ela em sua vida? Não sei se algum dia vou saber. Não sei se algum dia vou te encontrar numa dessas esquinas da vida, e quem sabe quando te encontrar você esteja casada e com o filho com que você tanto sonhava. Quem sabe nesse dia, eu tenha conseguido aquela promoção, me mudado para São Paulo, e tenha até esquecido de você. Fiquei com você por um tempo, que não foi muito, mas o suficiente pra saber que vai ser difícil te esquecer - mas eu vou conseguir. Ah, eu vou conseguir." Nathália Zarpellon
