sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A Mulher Inesquecível




"Estou aqui te escrevendo uma outra vez, e tenho total consciência que já me tornei repetitivo no tema. Mas sabe o que é, eu sou um escritor que nunca havia se apaixonado antes, portanto é de se entender que agora que encontrei ele seja o tema central dos meus textos, dos meus sonhos, dos meus pensamentos. Até então, eu até escrevia um ou dois textos a cada 6 meses sobre o amor, mas só quando alguma leitora pedia muito. E digamos que nenhum deles ficava muito bom, porque não era sincero.
As pessoas têm me perguntado se estou apaixonado ao lerem meu novo estilo de escrever. E eu nego, embora no fundo eu saiba que é impossível escrever sobre amor sem nunca ter amado. Então, a verdadeira resposta para esse questionamento é sim, eu estou apaixonado – ou estive.
Mas é que na verdade, todo homem já amou uma Maria – vou chamar de Maria para dar nome à moça que me arranca esses suspiros, mas esse não é seu verdadeiro nome. Todo homem já encontrou aquela que lhe tira o sono, tira seus pés do chão e o faz sorrir quando abre seu sorriso.

Claro que essas referências não são minhas. Todo apaixonado acaba sempre falando em “borboletas no estômago” “sorriso que desmonta inteiro” “coração acelerado”. Mas o que ninguém fala – e eu vou falar – é como é de verdade o objeto do tão falado amor.
Engana-se quem pensa que a mulher inesquecível para um homem é aquela que é doce, meiga, e concordada mulher. Você nunca vai se lembrar da mulher que te deixava escolher o restaurante, que nunca brigava, e que insistia em dividir a conta.

A mulher inesquecível é o oposto. É briguenta, é mandona, e nunca concorda com o que você diz. Se você quer comer comida mexicana, ela quer comida japonesa. Se quer sorvete, ela quer açaí. Se você diz que seu batom é vinho, ela insiste que é vermelho. Se comenta que ela fica bonita de cabelos presos, ela os solta pra te provocar. Se quer pagar a conta, ela quer dividir. Se quer dividir, ela se sente ofendida por pedir para ela pagar.
Geniosa. Ela também não aceita estar errada, mesmo quando no fundo sabe que está. Ela briga, a culpa é sua. E ai de você se disser que foi ela quem começou... Ela bate a porta, sai pisando forte e te deixa falando sozinho. Mas ela é bipolar também, então depois de algumas horas ela volta e te beija como se nada tivesses acontecido.
Toda cheia de manias... Ela gosta de cortinas, gosta de espelhos, e de bichos de pelúcia, mas odeia que deixem a porta do guarda roupa aberta, e é capaz de levantar da cama à noite só pra fechar uma dessas portas que você esqueceu aberta.
Imprevisível. Você nunca pode prever a reação dela. Por exemplo, se você trouxer a ela seu doce preferido: ela pode adorar, devorar, e depois te beijar em agradecimento; ou pode te olhar com raiva porque você estragou sua dieta. E nem pense em dizer que ela não precisa de dietas, que ela vai vir com uma frase dessas “Eu engordei 2kg e você não percebeu, você não presta atenção em mim.”

Assim era a minha Maria, e é por conta dela que o sentimentalismo vem tomando conta dos meus textos – e vida. Mas não se enganem em pensar que eu sou o único. Como já falei acima, todo homem já amou uma Maria, e quem ainda não amou, vai amar. Resta saber se você vai conseguir lidar com seu temperamento, seu gênio forte, e suas constantes mudanças de humor.
Eu não soube lidar. E devo a isso a inspiração que tomou conta de minhas mãos e mente ultimamente – até rimou. Porque felicidade não se escreve. Já saudade, essa rende.


E é por isso que eu bebo? Não. É por isso que eu escrevo."

Nathália Zarpellon



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Amores De Verão Não Sobem A Serra

Ouça enquanto lê:


"Então, é isso. Aqui estou eu, na minha cidade, a cidade que sempre dorme, fazendo algo que sempre julguei clichê demais para fazer – pensando no que você está fazendo aí, na sua cidade que nunca dorme. Justo eu, que sempre tirei sarro de você por ser clichê demais!
Mas vamos ser sinceros, a culpa não é minha por pensar tanto em você. Morar em cidade pequena tem dessas desvantagens – não ter nada para fazer e muito tempo para pensar. Mas claro, eu nunca dou brecha para que ninguém perceba isso, nem mesmo meu pai. E olha que até ele tem falado que eu ando quieto ultimamente.

Mas eu disfarço bem: eu saio nos lugares que tem para sair, me divirto e tiro inúmeras fotos – fotos que publico nas redes sociais esperando que você veja. Mas se for ver por fotos, você também parece estar muito bem, parece se divertir, e está cada dia mais linda.
Às vezes, eu penso em te mandar uma mensagem no facebook ou pedir seu número de whatsapp – você nunca permaneceu muito tempo com o mesmo número – mas eu desisto antes mesmo de começar a digitar.

Me lembro o dia em que a conheci, naquela rodoviária lotada de gente que não sabia para onde ir, e gente com destino certo, mas no momento em que nos esbarramos decidimos exatamente para onde nós queríamos ir. E qual não foi a minha surpresa quando você, claramente uma moça da cidade, mostrou em sua passagem o mesmo destino que o meu? Esse fim de mundo de cidade. Esse tal de destino está sempre a fim de nos surpreender.
Eu perguntei “Você, uma moça da cidade, vai mesmo para o interior? Difícil acreditar.” E você me respondeu “Eu ainda vou te surpreender muito.” Dito e feito. Naquelas 4 horas de viagem pude sentir como se nos conhecemos há anos – mais um clichê.
Te ajudei a descer as malas, e antes que pudesse te dizer mais alguma coisa, seu tio chegou, e você foi com ele. A minha sorte é que eu tinha me lembrado de pedir o seu telefone, e no mesmo dia, te liguei. E nós tivemos as melhores férias de nossas vidas. Ou pelo menos, da minha vida, e quero acreditar que as da sua vida também.

Mas é como dizem: amores de verão não sobem a serra (tudo bem que nessa cidade nem serra tem, mas você entendeu). E o nosso amor não resistiu aos 300 quilômetros de distância, aos ciúmes gerado pela ausência, a falta de tempo para conversarmos, a falta de perspectivas para o futuro. E então você se foi, ou eu me fui, mas nós nos fomos sem nunca termos de fato sido um do outro.

Perdido em meus pensamentos, eu me encontro aqui – nessa cidade que sempre dorme – decidindo se ligo para você ou não, embora eu ache que o seu número nem seja mais o mesmo. E fico pensando se você também está pensando em mim, ou se já me esqueceu de vez.

E enquanto eu decido se eu vou, se eu fico, se ligou ou se deixo para lá, a vida segue, os dias passam. Só não passa essa absurda necessidade de pensar em você."

Nathália Zarpellon


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sobre Ela

Ouça enquanto lê:

"Ela é linda naturalmente. Então, não tente fazê-la ficar mais linda deixando-a brava. Concordo que ela fica linda brava. Mas é que ela está farta desses caras que a irritam de propósito só para vê-la com aquela expressão. Ela odeia se irritar, e odeia mais ainda quando a irritam e dão risada da sua expressão de brava. Porque ela só faz essa cara, quando fica realmente irritada. 

Não seja muito ciumento, a ponto de fazê-la precisar mentir que parou de falar com aquele amigo pelo qual ela tem tanto apreço, para manter você e ele em sua vida. Ela odeia mentir. Porém, não seja tão descuidado a ponto de não sentir nem um pouco de ciúmes, porque daí ela se sente deixada de lado, e pensa que você não se importa com ela.

Faça cócegas nela, mas quando ela pedir para parar, pare mesmo. Se não, ela vai começar a te dar socos e pontapés. Ela não gosta de chorar, nem se for pra chorar de rir.

Esconda o seu celular só para ver a cara que ela faz quando não o encontra onde havia deixado, mas quando ela começar a se desesperar, o devolva com alguns beijos. Ela vai fazer uma cara de irritada, mas sus beijos serão o suficiente para que ela também ache graça do seu próprio desespero.

Diga que quer vê-la, porque ela não gosta de ser a única a falar em encontros. Mas não a sufoque, dizendo que quer vê-la todo dia. Você precisa ter sensibilidade para perceber quando ela precisa de você, e quando ela precisa de espaço.
Entenda que quando ela falar para você ir embora, é porque ela quer que você fique, e que quando ela estiver triste e você perguntar, e ela disser que não é nada, é tudo. E ela quer que você insista até que ela conte, e quando ela contar, que a abrace.

Às vezes ela fica meio distante, e pode ser por nenhum motivo, ou pode ser algo que você disse que a deixou pensativa. Mas não se culpe por isso. Ela tem a mania de sentir tudo ao extremo, então, uma frase como “não quero ter filhos” pode ser suficiente para que ela se pergunte se fez certo ao escolher você como seu companheiro.

Quando estiverem na rua, ela vai parar se encontrar um cachorro fofo, ou uma criança sorridente. E não a apresse, pois são nesses momentos em que você pode e deve captar a sua verdadeira essência.

Não brigue com ela quando ela pegar o telefone na sua presença, pois ela tem mania de celular. Beije seu pescoço suavemente, ou sussurre algo em seu ouvido, que eu garanto que ela vai deixar o celular de lado sem resistência.

Ela não é uma menina fácil, e se contradiz sem esforço o tempo todo. Porém, se ela te amar, você vai entender o porquê de ser tão fácil amar uma pessoa assim. Porque entre suas muitas faces, a minha preferida é a face que ela assume quando ama verdadeiramente alguém.

Daí, por mais apimentado que seja o seu temperamento, ela se derrete e se torna a pessoa mais carinhosa que um dia você irá conhecer. Então, tenha paciência com ela em seus dias ruins, e em suas manhãs de mau humor. Porque mesmo em um dia ruim, ela ainda é encantadoramente bela, e incrivelmente doce."

Nathália Zarpellon



Para A Minha Menininha

Ouça enquanto lê:


"Filha eu tenho te notado estranha ultimamente, mas sinceramente, eu sei o porquê. Sincera e felizmente. O que você tem eu já tive – há algum tempo atrás – são sintomas de amor, o mais intenso dos sentimentos. Como eu sei? Oras, eu não fui pai a vida inteira, eu também já me apaixonei, e também andei pela casa do seu avô com a cabeça nas nuvens e borboletas no estômago.
Você não se lembra direito da sua mãe, e nem poderia, afinal, ela morreu quando você era apenas um bebê. Mas eu me lembro, e tenho sorte de dizer que ela foi o grande amor da minha vida. Mas o que quero dizer é que posso falar com propriedade desse sentimento que é amor.

Filha, o amor não olha beleza nem a conta bancária, ele só olha nos olhos, e nesses momentos é que podemos saber se o sentimento é verdadeiro ou não. O amor não é impaciente ou intolerante, e sabe perdoar. O amor pode ser encontrado não em grandes gestos ou demonstrações públicas de afeto, mas em gestos pequenos, que tem um grande significado para as pessoas apaixonadas.
Eu amei um dia, e podia ver nela tudo isso que te digo. Por mais que a vida fosse um pouco difícil, sempre conseguia encontrar nela um pouco mais de força e esperança para seguir. E é isso que eu desejo que você encontre: uma pessoa que possa dividir com você todas as angústias da vida, porque ela não é fácil, minha filha. E eu não vou estar aqui sempre para te apoiar.

Pode ser que esse seu amor seja só o primeiro, e que ele seja até passageiro – porque o amor tem dessas peças. Mas sendo o primeiro ou o único, ele vai te ensinar muita coisa, coisas que nem eu mesmo sou capaz de ensinar.
Quisera eu estar sempre com você, te ensinando e te protegendo de tudo, mas a vida não é assim.

Talvez essas não sejam as palavras que você espera ouvir de seu pai – nessa idade tudo que os pais falam é visto como “caretice” ou “os tempos mudaram”, ou ainda “ele não sabe de nada da vida”. Não é mesmo?

Eu só estou te falando tudo isso, porque sempre te prometi que seria um pai presente, e gostaria que soubesse que seja qual sentimento que você sinta, seja qual decisão que você tome, eu vou estar aqui, para te apoiar. Mas quando eu não estiver, eu espero que você encontre alguém que seja como foi sua mãe para mim. Espero que você venha a ter filhos que sejam o fruto de um grande amor, mas mesmo que não tenha, que você viva um grande amor. Porque o amor, minha filha, é o melhor dos sentimentos!

-
Mas o que eu estou falando? Eu sou só um velho careta que não entende de nada da vida! Mas sou seu pai. E disso, posso dizer que eu entendo. Principalmente se tratando da sua felicidade."
Nathália Zarpellon





terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Nossa Saudade Compartilhada

Ouça enquanto lê:

"Eu e você. Poderia ser simples, mas fizemos questão de dificultar. Eu penso em você todo dia antes de dormir, mas em vez de te falar isso, deixo as palavras não ditas. Você diz que pensa em se casar comigo, mas fica com outras e me faz ficar sabendo disso. É como se me dissesse “-Eu te quero, mas não agora.”
Em vez de falar que isso me incomoda, finjo que estou de acordo, e fico com outros também. Sua mãe me liga de vez em quando, e me pergunta quando vamos voltar. Eu nunca sei o que responder.
Meu cachorro sente sua falta, e de vez em quando vem me trazer a bolinha, aquela que você comprou. Como quem pede por brincar com você. E eu faço pra ele a mesma cara que faço pra mim: a de que sei que me falta um pedaço, e que ele está vagando por aí. E gosto de pensar que você sente a minha falta também.
Certa vez um amigo seu veio me falar o quanto você estava com saudades, mas que não queria se envolver agora. Eu entendi. Também não sei se quero me envolver agora. Afinal, nos separamos tantas vezes, que foi inevitável existirem outros relacionamentos. E com eles, vieram novas cicatrizes, novos medos, novas angustias.
Mas mesmo nos encontrando e desencontrando tantas vezes, sempre tivemos algo em comum, - e duvido que um dia vamos deixar de ter. Temos em comum o grande apreço que sentimos um pelo outro. E a falta que vem com ele, também. Não posso dizer a ninguém que compartilha dessa saudade, o quanto é difícil ter que seguir em frente pensando em uma só pessoa antes de dormir. E ainda acordando ao lado de outra, ter aquela mesma pessoa no pensamento.

Mas posso te dizer, porque você compartilha da mesma saudade que eu.

Mas eu não digo. E não digo, porque vivemos por tanto separados, que eu não acho que saibamos agir de outra forma. Passando tanto tempo sendo apenas o ponto de fuga um do outro, que não imagino como poderemos nos enxergar como porto seguro.
Nós só sabemos ser assim – juntos, quando estamos separados.
Se vamos aprender a estar juntos, estado juntos, só o tempo vai dizer. E eu, e você."

Nathália Zarpellon


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Carta Para Minha Ex Melhor Amiga

Ouça enquanto lê:


"Você disse que sentia minha falta, e que me queria de volta em sua vida. Isso não me surpreendeu – eu sabia que você ia acabar sentindo a minha falta, cedo ou tarde. O que você se esqueceu, no entanto, é que, embora eu não fosse muito orgulhosa, eu sabia reconhecer quando não valia mais a pena insistir em uma relação – fosse um namoro, ou até mesmo uma amizade. E eu não volto atrás quando eu percebo que não vale mais a pena.
E esse momento chegou para mim.
Não foi exatamente uma coisa que você disse. Foi o conjunto de várias coisas que disse e fez, em momentos distintos, mas uma hora eu tive que fazer o balanço da nossa amizade: juntando todas essas coisas que eram como fios soltos atrás de um bordado – e eu devia arrematá-los, ou então cortá-los. E quando eu juntei todos foi que eu percebi que eram tantos, que mais valia a pena jogar o bordado do que estragá-lo tentando consertar.
E não me olhe como se a culpa fosse minha!

Eu insisti mesmo depois de ver que você tinha desistido. Eu esperei uma semana e depois outras três, para enfim decretar o fim dessa amizade – onde há muito tempo só eu era a amiga. Você deveria saber mais do que ninguém que essa coisa de dar sem receber cansa. E bem, eu me cansei de doar minhas mãos, meu ombro amigo, meus ouvidos, meu tempo e minha dedicação, para em troca ter um décimo do seu tempo – que você devia estar usando com alguém melhor do que eu.
Enquanto eu dava tudo de mim, me contentava com as memórias de como nossa amizade havia sido, um dia. Mas ninguém vive de memórias. É necessário alimentar a amizade com novas histórias, com novos momentos, e não com novas decepções.

Então me desculpe se agora que você reconheceu o meu valor, não tem mais espaço em minha vida para você. É que o seu lugar já estava vago há muito tempo, as eu não queria colocar ninguém em seu lugar, porque dizia a mim mesma – “ela vai voltar”. Mas você não voltou. E minha amizade por você, que era tão verdadeira e genuína acabou.
Posso dizer que não sinto sua falta – mas eu senti durante muito tempo, e te falei isso diversas vezes, ao que você respondia que eu não era compreensiva para entender que não tinha tempo para mim. Então, parei de sentir. E fica tranquila, que você vai deixar de sentir a minha também.
Da nossa história, eu sempre vou me lembrar da amiga que sempre tinha tempo para tomar uma cerveja após o trabalho, porque sabia que era o que eu precisava. E até nas lembranças você leva a melhor: porque nunca vai se lembrar do dia em que eu te troquei por trabalho, um novo namorado, ou um orgulho novo.

Inclusive, eu desejo que você seja feliz – e nesses momentos você nem vai lembrar que eu existi. Afinal, você nunca precisou de mim quando estava feliz."

Nathália Zarpellon



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mas Eu Quis Voltar Atrás

Ouça enquanto lê:


"Mas eu quis voltar atrás, e como quis. Quis refazer a carta rasgada após vê-la em pedaços desfeita em minha cama. Quis telefonema após telefone desligado na cara, e campainha tocada após cada porta batida na cara que te dei. Quis mensagem após cada ordem expressa e ordem não expressa de não me procurar mais. Quis flores após cada xingamento na inutilidade destas, e quis blusas de frio mesmo quando me dizia muito segura de mim mesma. Quis você também, mesmo dizendo não precisar de você. Também quis segurar sua mão depois de tirá-la de perto de mim, entre outras coisas mais que não valem a pena ser revividas ou recordadas. 

Você estava cego demais para ver, não é? SIM, ESTAVA, como na verdade sempre esteve. Meus amigos me diziam que você nunca assumiria sentir algo forte por mim, outros diziam que você sequer sentia. Outros ainda diziam que eu não sabia nem o que eu mesma sentia, tão envolta que estava no jogo de gato e rato que sabíamos fazer tão bem. E isso não posso negar, o jogo que fazíamos. Nesse éramos mestres e não sei nem dizer quem era melhor. Cada vez um se encontrava na rota de fuga, e nossa história estava dessa forma, fadada a um final. O final por si, propriamente dito. Viver fugindo tem o inconveniente de que uma hora, se consegue o tão sonhado objetivo de ser livre. E a liberdade que é sonhada por tantas, e temida por muitos, tenho sentido na pele que é grandiosa demais para se falar ou se comentar, mas também é grande demais para se viver sozinha. 

E tanto fiz, e tanto fizemos, que hoje cada um conquistou o que sempre sonhou, mas eu te pergunto: é o suficiente? Ser livre? Vez por outra acho mais que o necessário para ser feliz. Outras vezes, sinto falta de ter alguém me ligando inconvenientemente de madrugada e me propondo comprar uma garrafa de vinho e sentar na varanda vendo as estrelas, e jogando conversa fora, para fazer as pazes. 

Tem vezes também que o silêncio faz um eco danado e eu fico aqui imaginando por onde você deve andar. Será que já anda nos braços de outra, uma bêbada apaixonada por saquê? Será que continua dando voltas no seu carro pela cidade quando tem insônia às 3 horas da manhã? Será que se demitiu do emprego que tanto odiava? Será que comprou um papagaio? E vivo nesses serás.
Tem dias, os mais difíceis, em que saio e me divirto e penso que te esqueci. Mas aí me vem alguém e me oferece uma rodada de tequila, e você me volta à cabeça. Maldito o dia em que te conheci, maldito o dia em que te fiz sumir.
Vivemos a melhor fase de nossas vidas juntos e tivemos a estúpida sede de querer mais. Mais amor, mais diversão, mais sexo, mais prazer, mais corpos nus, mais corações partidos, mais liberdade e mais diversão. E veja só, conseguimos. Copos vazios, corpos despidos, prazer, enfim.

[..] Mas eu quis voltar atrás, e como quis. Quis voltar para o nosso bar para ver se você estaria na nossa mesa, à minha espera, mas você não estava. Quis retornar sua chamada perdida, mas não tive coragem. E quis te chamar para voltar para mim, mas não pude fazer isso. Não pude porque de certa forma nossa história estava fadada ao final.. Assim que decidimos parar de nos levarmos à sério. E mesmo assim, ainda penso nas noites frias, nos dias de nada, em voltar atrás. Quem sabe um dia eu volte?"


Nathália Zarpellon






quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Ao Cara Errado


"Você disse que queria ir embora, mas que eu estava te prendendo. Disse que não via a hora de sair por aquela porta, e que eu não deixava que você partisse. Disse que meu hálito pela manhã o incomodava, e que você se irritava ao ver minhas meias espalhadas pelo chão – ainda que soubesse que eu as tirava quando chegava em casa cansada demais para coloca-las no cesto. Olha, você sabe que eu nunca gostei de dormir de meias. Mas isso não vem ao caso.
Você reclamou do meu vício em colecionar ímãs de geladeira, e dizia que eu parecia uma criança mimada, em vez de uma mulher crescida. Quando entrava em minha casa, era como se reparasse em toda aquela bagunça – menos em mim. E eu gritava, por entre uma roupa caída e um copo sujo – “olha eu aqui”. Mas você parecia não enxergar todo o carinho que eu estava ansiosa para te dar, e sempre perdia a paciência quando eu tentava ser irônica, e você estava estressado por mais um dia de trabalho.

É claro que não foi sempre assim. Houve uma época em que você sorria ao me chamar de bagunceira, e juntávamos os copos espalhados pela casa – e um lavava, o outro guardava. Sem enxugar. Eu sempre esperei a louça secar sozinha. Algo em que você nunca viu problemas. Ou parecia não ver...

Todos os relacionamentos estão fadados a esse final? Perder o encanto, e só sobrarem mau humor e ameaças de abandono? Acredito que não. E acredito que, se você vê mais defeitos do que qualidade em mim, é porque deixou de me amar.

Claro que às vezes nós mudamos, e as pessoas amavam o que éramos, e não o que passamos a ser. Mas nós dois sabemos que não era o caso. Eu sempre fui a mesma menina mimada, bagunceira e cheia de manias desde o dia em que nos encontramos naquele pub que nenhum de nós dois frequentávamos, mas nossos amigos conseguiram nos levar.
Porém, você parece se incomodar com pequenas coisas que antes te eram naturais. Além, é claro, das duras palavras que você diz quando afirma que quer ir embora – e demonstra que minha presença te incomoda.

Portanto, acho que é hora de “te deixar ir” – já que você diz que não vai só porque eu não deixo. E é hora de me permitir ir também.

Pode ir, e não se incomode em lavar o copo que sujar quando se servir de um pouco de coca cola ao entrar aqui – eu nunca fui a única cheia de manias. Pode ir, e não se preocupe em levar sua escova de dentes – eu já a joguei fora mesmo. Pode ir, e não se importe ao trancar o protão, mesmo que eu esqueça de trancá-lo depois.
Pode ir, já que era o que tanto queria, e queria de tal forma, que eu passei a querer também.

Afinal, se você queria tanto ir embora, é porque nunca foi o cara certo. E com caras errados, eu não preciso perder nada – nem meu tempo, nem meu carinho, nem o meu esforço. Porque quem ama, aceita a pessoa com todos os seus defeitos, ou melhor, com o seu jeito.
Porque defeitos, quem via era você. Eu vejo uma personalidade. E com certeza o cara certo, vai enxergar também.

E de mim? Fique sabendo que eu vou ficar bem. Eu nunca precisei de você, embora você parecesse acreditar nisso ao dizer que eu te impedia de ir embora. Eu queria estar de você, o que é muito diferente. Mas eu deixei de querer.
E se um dia desejar estar comigo de novo, lembre-se de suas próprias palavras, e conforte-se ao saber que você conseguiu o que eu queria. E não importa quanto tempo tenha passado – uma semana, um mês ou 60 dias – saiba que eu também estou conseguindo o que eu queria.

Mas acho que você nunca se importou em saber o que era, não é mesmo?"


Nathália Zarpellon




quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Minhas Sinceras - e Mudas - Desculpas

Ouça enquanto lê:


"Já faz um bom tempo que você se foi. Portanto, não posso colocar a culpa da minha melancolia no tempo, e dizer que nossa separação foi recente demais. Os amigos pararam de me perguntar como eu estava, com aquela expressão de pena. Sinto falta de ter um deles nunca fazendo com que eu me sentisse sozinha, mas não posso culpá-los por isso. Afinal, ninguém imaginaria que eu fosse sentir sua falta por tanto tempo, nem mesmo eu.

Se eu imaginasse que seria tão difícil te perder, talvez eu tivesse pensado melhor em minhas atitudes, e não teria te chateado tanto ao agir por impulso. Eu sei que falei coisas horríveis diversas vezes, portanto não te culpo por ter finalmente ido embora.
Se for pesar tudo isso, acho que a única culpada do nosso fim, fui eu mesma. Fui eu, por ser tão mimada e egoísta, por ser tão orgulhosa e opressiva, e por nunca admitir meus erros. Fui eu, por ser tão estressada e tão cheia de mim, por não aceitar ser contrariada, por ter me feito de durona quando tudo o que eu mais queria era um abraço.

Um pouco sempre foi minha personalidade, mas sabe, um pouco também foram alguns desamores do passado. Porém, de forma alguma um sofrimento justifica um erro, e o meu antigo sofrimento nunca me deu o direito de te causar um sofrimento.
Por isso, que quando você falou que ia embora, eu te assisti juntando as suas poucas coisas que mantinha em casa, e não disse uma palavra. E talvez esse tenha sido mais um dos meus erros, não ter insistido para que você ficasse. Você me olhou com uma expressão de muda tristeza quando me deu um beijo na testa, e disse que desejava que eu fosse feliz. Eu sei que esse seu desejo foi sincero. Pena que não tenha se concretizado - ainda.

Se eu disser que vou sofrer por você para sempre, sei que vai ser mentira, pois há muito tempo aprendi que nenhuma dor dura para sempre. Porém, se eu te disser que nunca vou te esquecer, isso vai ser verdade. Vou me lembrar de você como o único que teve paciência para aguentar meus ciúmes, meus surtos, meus dias de melancolia, e só ter ido embora quando enfim, não tinha mais espaço para mim em sua vida.

Mas a coisa mais sincera que sem dúvidas posso te dizer, é que ainda tenho uma sutil esperança, de te reencontrar em um futuro, em uma dessas esquinas da vida. E no dia que esse reencontro ocorrer, também tenho esperanças de que não sejamos mais os mesmos – mas que o amor que um dia tivemos possa renascer e ser melhor do que um dia foi. Porque por mais que a gente tenha nossos defeitos, não perco a esperança de que o tempo acabe por nos amadurecer (...)

E que esse tempo passe, e cure minhas dores da alma, e as tuas dores também. E que ele cure nossas dores de amor, e nos torne um só dessa vez."

Nathália Zarpellon



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O Amor Que Virou Saudade

Ouça enquanto lê:


"Eu e você. Poderia ser simples, mas fizemos questão de dificultar. Eu penso em você todo dia antes de dormir, mas em vez de te falar isso, deixo as palavras não ditas. Você diz que pensa em se casar comigo, mas fica com outras e me faz ficar sabendo disso. É como se me dissesse “-Eu te quero, mas não agora.”
Em vez de falar que isso me incomoda, finjo que estou de acordo, e fico com outros também. Sua mãe me liga de vez em quando, e me pergunta quando vamos voltar. Eu nunca sei o que responder.
Meu cachorro sente sua falta, e de vez em quando vem me trazer a bolinha, aquela que você comprou. Como quem pede por brincar com você. E eu faço pra ele a mesma cara que faço pra mim: a de que sei que me falta um pedaço, e que ele está vagando por aí. E gosto de pensar que você sente a minha falta também.
Certa vez um amigo seu veio me falar o quanto você estava com saudades, mas que não queria se envolver agora. Eu entendi. Também não sei se quero me envolver agora. Afinal, nos separamos tantas vezes, que foi inevitável existirem outros relacionamentos. E com eles, vieram novas cicatrizes, novos medos, novas angustias.
Mas mesmo nos encontrando e desencontrando tantas vezes, sempre tivemos algo em comum, - e duvido que um dia vamos deixar de ter. Temos em comum o grande apreço que sentimos um pelo outro. E a falta que vem com ele, também. Não posso dizer a ninguém que compartilha dessa saudade, o quanto é difícil ter que seguir em frente pensando em uma só pessoa antes de dormir. E ainda acordando ao lado de outra, ter aquela mesma pessoa no pensamento.
Mas posso te dizer, porque você compartilha da mesma saudade que eu.
Mas eu não digo. E não digo, porque vivemos por tanto separados, que eu não acho que saibamos agir de outra forma. Passando tanto tempo sendo apenas o ponto de fuga um do outro, que não imagino como poderemos nos enxergar como porto seguro.
Nós só sabemos ser assim – juntos, quando estamos separados.
Se vamos aprender a estar juntos, estando juntos, só o tempo vai dizer. E eu, e você."

                                                                                                                 Nathália Zarpellon