quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Amores De Verão Não Sobem A Serra

Ouça enquanto lê:


"Então, é isso. Aqui estou eu, na minha cidade, a cidade que sempre dorme, fazendo algo que sempre julguei clichê demais para fazer – pensando no que você está fazendo aí, na sua cidade que nunca dorme. Justo eu, que sempre tirei sarro de você por ser clichê demais!
Mas vamos ser sinceros, a culpa não é minha por pensar tanto em você. Morar em cidade pequena tem dessas desvantagens – não ter nada para fazer e muito tempo para pensar. Mas claro, eu nunca dou brecha para que ninguém perceba isso, nem mesmo meu pai. E olha que até ele tem falado que eu ando quieto ultimamente.

Mas eu disfarço bem: eu saio nos lugares que tem para sair, me divirto e tiro inúmeras fotos – fotos que publico nas redes sociais esperando que você veja. Mas se for ver por fotos, você também parece estar muito bem, parece se divertir, e está cada dia mais linda.
Às vezes, eu penso em te mandar uma mensagem no facebook ou pedir seu número de whatsapp – você nunca permaneceu muito tempo com o mesmo número – mas eu desisto antes mesmo de começar a digitar.

Me lembro o dia em que a conheci, naquela rodoviária lotada de gente que não sabia para onde ir, e gente com destino certo, mas no momento em que nos esbarramos decidimos exatamente para onde nós queríamos ir. E qual não foi a minha surpresa quando você, claramente uma moça da cidade, mostrou em sua passagem o mesmo destino que o meu? Esse fim de mundo de cidade. Esse tal de destino está sempre a fim de nos surpreender.
Eu perguntei “Você, uma moça da cidade, vai mesmo para o interior? Difícil acreditar.” E você me respondeu “Eu ainda vou te surpreender muito.” Dito e feito. Naquelas 4 horas de viagem pude sentir como se nos conhecemos há anos – mais um clichê.
Te ajudei a descer as malas, e antes que pudesse te dizer mais alguma coisa, seu tio chegou, e você foi com ele. A minha sorte é que eu tinha me lembrado de pedir o seu telefone, e no mesmo dia, te liguei. E nós tivemos as melhores férias de nossas vidas. Ou pelo menos, da minha vida, e quero acreditar que as da sua vida também.

Mas é como dizem: amores de verão não sobem a serra (tudo bem que nessa cidade nem serra tem, mas você entendeu). E o nosso amor não resistiu aos 300 quilômetros de distância, aos ciúmes gerado pela ausência, a falta de tempo para conversarmos, a falta de perspectivas para o futuro. E então você se foi, ou eu me fui, mas nós nos fomos sem nunca termos de fato sido um do outro.

Perdido em meus pensamentos, eu me encontro aqui – nessa cidade que sempre dorme – decidindo se ligo para você ou não, embora eu ache que o seu número nem seja mais o mesmo. E fico pensando se você também está pensando em mim, ou se já me esqueceu de vez.

E enquanto eu decido se eu vou, se eu fico, se ligou ou se deixo para lá, a vida segue, os dias passam. Só não passa essa absurda necessidade de pensar em você."

Nathália Zarpellon


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