sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As Palavras Que Nunca Te Direi

Ouça enquanto lê:


“Ela entrou e eu estava ali...”

Começo esse texto com uma famosa frase de uma música do Skank, porque foi exatamente o que aconteceu. Ela entrou no bar que eu sempre frequentava, e por um instante fugaz achei que ela tinha ido até lá para me ver. Mas ela não tinha como saber que eu frequentava tal bar, porque eu nunca disse isso a ela – assim como tantas outras coisas que eu devia ter dito, e não disse.

Ela entrou e se dirigiu a um grupo de meninas – deviam ser suas amigas, mas eu não conhecia nenhum rosto. Deviam ser novas amigas, porque ela sempre me falava com carinho de todas as suas amigas. Diferente de mim, que mal falava sobre mim com ela.
No tempo que ela levou para se dirigir da porta do bar até a mesa, muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Lembrei de tudo, lembrei de nada. Enquanto ela andava, pude me lembrar de todas as vezes em que ela andou ao meu encontro. Quando ela sorriu e acenou, lembrei-me de quando ela sorria ao me ver, e até do dia em que ela sorriu e foi me abraçar, e eu me esquivei. Será que esse foi o começo do fim? – pausa dramática.
Se foi o começo do fim ou o decisivo final, eu nunca vou saber. Em um dia ela estava me mandando mensagens querendo saber se eu tinha me recuperado da gripe, e no seguinte, veio ao meu encontro sem sorrir – eu estranhei – e me disse que não dava mais. Sem muitas explicações, ela disse que devíamos seguir caminhos separados. E mesmo querendo falar, eu não disse nada. E ela se foi.

Eu não disse por exemplo, que nunca tinha dormido e acordado com alguém do meu lado. Porém, quando acordei e a vi ao meu lado, tive a certeza que era ao lado dela que eu queria acordar por toda a minha vida.
Também não lhe perguntei quem iria conversar comigo sobre tudo, e sobre nada, ou quem iria me aconselhar a dormir cedo, a beber menos, ou a ficar em casa quando estivesse gripado.
Também não disse a ela como ela estava linda naquela viagem que fizemos até a praia, e que quando ela entrou sozinha no mar, e eu a vi sair, tive a certeza que não queria mais nada na vida, que não fosse ela, meu cachorro, e duas filhinhas. Duas filhas, porque eu queria que elas puxassem a beleza e o bom coração da mãe – eu nunca fui tão bom em perdoar quanto ela.



Deve ter sido a intensidade desse sentimento que me fez ter medo de continuar, e como quem vai tirando o time de campo de um em um jogador, eu acabei me afastando dela aos pouquinhos. As mensagens que antes eram muitas, foram se tornando mais escassas. E percebendo, ela foi me dando o espaço que inconscientemente, eu queria.
E então, eu comecei a tratar ela um pouco mais friamente – talvez nem eu mesmo percebesse, mas ela percebeu. E diversas vezes ela me perguntou o que eu tinha, e eu respondia que nada, porque eu achava que não tinha nada.

Mas eu não tinha “nada”. Eu tinha ela, essa menina maravilhosa que se escondia por trás da aparência de uma mulher forte.
Mas com essas atitudes pequenas – como não abrir mais a porta do carro para ela – eu passei a ter menos, menos, até o dia em que eu realmente não tive mais nada. Mais nada dela.

E agora, vendo ela assim – tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, tão bela e ao mesmo tempo tão fria – me deu uma saudade danada daquela menina. Me deu saudade daquela pequena mostrando esmaltes para mim e me perguntando qual eu preferia – e eu nunca entendia os nomes das cores, mas escolhia um só pra deixa-la feliz.

Acho que no final, é isso o que conta, as pequenas atitudes que a gente toma pra deixar o outro feliz. E quando a gente deixa de tomar essas pequenas atitudes, isso conta também – conta pra se fazer a operação de somar-o-que-foi-feito e subtrair-o-que-deixou-de-ser-feito. E nessa conta, é que eu saí perdendo.

E vendo ela assim, tão completa, eu até tenho vontade de ir lá e falar tudo o que devia ter falado e não consegui. Mas sinceramente? Ela está tão completa que acho melhor deixar assim. Sem reabrir feridas já fechadas.
Ela está bem, e que continue assim. E e eu? Bem, vou ficar bem. Mesmo sabendo que ela está ali, e eu aqui. Eu vou ficar bem. Eu-vou-ficar-bem. Quem sabe se repetir bastante eu acredito?

Nathália Zarpellon




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