quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Maldição




"Maldição. Não sei desde quando comecei a associar esta palavra a você, mas sei que faz tanto tempo que o faço, que quase não consigo me referir a você com outro nome. Minha maldição, como prefiro dizer, embora eu não deva ter orgulho da posse de algo que me faz mal. Na verdade, faz tempo que não devo me orgulhar de nada do que tenho feito. Porque de tudo o que tenho feito, em nada concentro meus 100%. 100% da minha energia, da minha atenção, da minha disposição. Talvez 50% ainda sejam generosos. Isso se deve ao fato de você sempre aparecer nos mesmos lugares que frequento – ainda que em sonho, frequentemente me encher de recados na secretária eletrônica – dizendo que sente minha falta, me lembrando dos nossos momentos juntos – ou ainda me mandando um bombom, ou uma rosa, em um tempo perfeitamente calculado para não me deixar não te esquecer.

Não me concentro no trabalho, e entro no meu e-mail o tempo todo, com a ansiedade de uma adolescente para ver se me mandou alguma mensagem. Também checo o celular regularmente, mesmo quando estou “me divertindo” com meus amigos. E a caixa do correio. Só não preciso examinar minha mente, pois nesta você tem um – maldito – lugar guardado, que faz questão de aproveitar da forma mais espaçosa possível. E quando está sumindo dos meus pensamentos, volta a me atormentar, como um corvo me vigiando e esperando a hora de pegar meu coração em carne viva, desprotegido.

Não me entenda mal, nem sempre acho ruim ser abordada sutilmente por você (ou ainda não tão sutilmente assim). Mas o que tem acontecido comigo te transforma no causador da minha desgraça.. Das minhas noites mal dormidas, e dos dias sem comer também.

Às vezes, me perguntam se estou doente, devido à minha maneira de agir em piloto automático e quase não olhar no rosto de ninguém, e rapidamente digo que não. Mas logo penso “Mas estou amaldiçoada.” Porque não vejo uma outra maneira de explicar o efeito que você tem sobre mim. Por exemplo, uma mensagem sua apaga o brilho do meu rosto instantaneamente, um telefonema quase me faz vomitar. De que forma isso pode ser bom?

Ultimamente venho me perguntando o que me leva a não colocar um fim nisso – e logo me lembro que já tentei – e você me convenceu com o papinho de “vamos ser amigos, sempre nos demos tão bem! Não vejo porque por um fim em uma relação assim.” Ou então, após passarmos certo tempo afastados, “sinto sua falta” – a mensagem que derretia meu coração, e ainda derrete. Será que alguma vez tentei mesmo me desvencilhar de você?

E assim vamos levando a vida, sem assumirmos que temos uma relação. Nesse eterno vai e volta, como um movimento de um iô iô. Até quando diremos que temos “apenas uma amizade” ainda não sei, e se um dia vai deixar de ser isso – embora já seja mais do que isso – e quem sabe eu não acabei com isso porque não quero acabar. Porque é mais fácil fugir de mim, assim como fujo de você, do que encarar de uma vez e colocar um fim – ou encarar de uma vez e colocar um título para uma nova historia.

Assim sendo, acho que só tenho a opção de aceitá-lo como a minha maldição. A maldição que sempre vai me acompanhar, até que eu decida pelo contrário. A maldição que me nutre, e que me destrói. A minha maldição, da qual não quero me libertar. "


Nathália Zarpellon





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